#VampirosNegros: Encontramos o primeiro Vampiro Negro na Literatura
#VampirosNegros: Encontramos o primeiro Vampiro Negro na Literatura – E se eu te contasse que foi uma história de vampiros a primeira obra literária norte americana a lutar contra a escravidão dos negros? Vamos contextualizar. A primeira grande história de vampiro na literatura tem como personagem Lord Ruthven e foi inicialmente atribuida a Lord Byron, este negou a autoria (Julho/1819) e se constatou que a autoria era de seu médico John Polidori inspirada num manuscrito do grande lorde maldito. A publicação de The Vampyre ocorreu lá em abril no ano de 1819, originalmente no periódico londrino, a New Monthly Magazine e o sucesso foi tão grande que acabou sendo re-publicado também em Nova Iorque nos Estados Unidos. Isso todo mundo sabe, não é mesmo?
Todo leitor ou leitora da Rede Vamp e dos meus livros sabe. Como temos o costume de pesquisarmos em fontes privilegiadas e oferecemos conteúdo com rica bibliografia jamais limitada por orientações políticas ou da modinha acadêmica da vez e com um gosto por fontes proibidas – sempre vamos mais além. Sendo assim vocês também sabem que para a gente a primeira grande história de vampiros é Christabel e de certa maneira Rhyme of Anciet Mariner de Samuel Taylor Coleridge. Já falamos disso longamente nos livros, na Vox Vampyrica e nos videos e entrevistas.
Vocês também conhecem a nossa série #VampirosNegros onde apresentamos, resgatamos e contextualizamos autores e também personagens negros na literatura vampírica. Se você não sabia disso, aliás inclusive até desconfiamos que haja algum movimento no Brasil que parece querer varrer para debaixo do tapete este assunto, aproveite para descobrir mais nestes links:
- #VAMPIROSNEGROS: PERSONAGENS DO SÉCULO 20 E 21
- #VAMPIROSNEGROS: AUTORES E AUTORAS QUE VOCÊ PRECISA CONHECER
- #VAMPIROSNEGROS: UMA JORNADA ATRAVÉS DA AFRICA (ANGOLA)
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A PRIMEIRA HISTÓRIA DE VAMPIROS NORTE-AMERICANA ERA SOBRE A LUTA CONTRA A ESCRAVIDÃO
O fato deste breve artigo de hoje é o de inserimos na corrente do nosso imaginário vamp uma obra norte americana de 1819 chamada: The Black Vampyre: A Legend of St. Domingo. Historicamente tal obra tem a importância de ser a primeira obra literária norte americana antiescravista e ainda propor a emancipação dos escravos naquele tempo. Sim meus nobres amigos e amigas, isso aconteceu numa história sobre vampiros. Na Rede Vamp sempre pegamos pesado na questão dos romances e prosas vampirescas do 18 e do 19 servirem como máscara para se trazer ao debate todos os totens e tabus do seu tempo.
Dentro dos seus méritos The Black Vampyre veio cerca de 14 anos antes do prestigiado “Um Apelo em Favor dessa Classe de Americanos Chamados de Africanos” da grande
Lydia Child, considerado pela academia como a primeira obra literária antiescravista da América do Norte. Então é isso. Uma história de vampiros, com um vampiro negro foi a primeira obra literária norte-americana a erguer a voz contra a escravidão na literatura. Sem mais.
Por alguma razão The Black Vampyre é em pleno 2020 uma obra desconhecida e ausente das antologias, das coletâneas, das coleções e dos grupos de estudo sobre romances e narrativas góticas ao redor do mundo. Na Comunidade Vamp da América do Norte também é uma obra desconhecida no circuito de apreciação literária. Existe uma versão muito boa dela disponibilizada em inglês, com uma riqueza de cuidado e contextualização feita na América do Norte por Ed White e Duncan Faherty que permite apresentar a riqueza e a importância deste texto. E felizmente no Brasil, o pessoal do Sebo Clepsidra disponibilizou uma versão traduzida bem caprichada, presente na sua edição de “O Vampiro de John William Polidori”
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UM AUTOR MISTERIOSO
A autoria de The Black Vampyre é controversa, inicialmente foi atribuída a um certo Uriah Derick D’Arcy e o texto parodiava abertamente The Vampyre, de Polidori. Algo comum, visto que durante boa parte do século 19 tivemos 4 modelos principais de vampiros na cultura pop da época que transitaram por incontáveis peças teatrais, óperas e publicações diversas. Esse tal de Uriah chega até mesmo a insinuar que Ruthven (personagem de Byron e Polidori) teve suas origens nas Ilhas Canárias, ainda em 1819. Na reimpressão de 1845 a autoria de The Black Vampyre é atribuída a Robert C. Sands e há ainda uma terceira visão de que o verdadeiro autor tenha sido
Richard Varick Dey (1801-1837). Enfim, as origens e a sua autoria divergem mas a obra permanece.
A HISTÓRIA DE THE BLACK VAMPYRE
Além de ser uma obra contrária a escravidão e a primeira do gênero na América do Norte, The Black Vampyre, também aborda a questão dos casamentos inter raciais, que eram um verdadeiro escândalo para aquele tempo. Novamente os romances e prosas vampíricas inserindo a pluralidade e desvelando como todo tabu é o totem do seu tempo e região.
A história de The Black Vampyre se inicia com um proprietário de escravos, o Sr. Personne, no que hoje é o Haiti, tentando várias vezes matar um escravo de 10 anos. Por mais que ele tente, o cadáver continua revivendo. Personne ordena que a criança seja queimada, mas o menino se move com velocidade sobrenatural e milagrosamente faz com que o proprietário de escravos seja atirado ao fogo. Antes de o Sr. Personne morrer, sua esposa o informa que o berço de seu filho não batizado está vazio, exceto pela pele, ossos e unhas.
Alguns anos depois, voltamos para a viúva de Personne, Euphemia, que está de luto por seu terceiro marido. Ela é visitada por dois estranhos, um homem negro extremamente bonito, vestido como um príncipe mouro, acompanhado por um garoto europeu pálido. Ele a encanta com sua elegância e beleza e rapidamente ganha sua mão em casamento, que acontece naquela noite. Naquela mesma noite, ele revela que é um vampiro e concede a Eufêmia o dom das trevas e a sede pelo sangue. Embora, para aquele tempo o casamento inter racial com um ex-escravo e ainda nascerem crianças desse relacionamento, fosse muito mais aterrorizante e escandaloso do que se tornar um imortal sedento de sangue.
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História de terror e de vampiros do 19 sem reviravoltas e que tornem as coisas ainda mais dramáticas, não é uma boa história. Agora Eufêmia está casada com um vampiro e ainda descobre que o jovem e pálido companheiro do príncipe é seu filho desaparecido do começo da história – e que este também é um vampiro. O príncipe devolve o menino Zemba para Eufêmia junto com o dinheiro de seu primeiro marido para que possam escapar para a Europa.
Ao longo dessa jornada sombria, os personagens descobrem que vampiros e escravos tinham muito mais em comum do que pensavam nas américas. Ambos eram forçados a viverem nas periferias e a margem dos grandes centros urbanos – e viviam descontentes com esta não-vida e inspirados pela recente revolução do Haiti (1791-1804) que pôs fim ao controle francês na ilha. Durante a jornada há um encontro dos protagonistas com um grupo de vampiros nobres e uma multidão de escravos, marcado pela eloquente fala para lá de iluminista e revolucionária do Príncipe:
“Nossos grilhões descartados, e nossas correntes dissolvidas, permaneceremos liberados, – redimidos, – emancipados, – e desentranhados pelo gênio irresistível da EMANCIPAÇÃO UNIVERSAL!! “
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Infelizmente The Black Vampyre não tem um final feliz para todos os protagonistas e para o grupo de revolucionários. Logo os escravos serão abatidos a tiros e os vampiros serão trespassados por estacas afiadas. Mas Eufêmia e o jovem Zemba conseguirão escapar graças a um ardil do Príncipe e conseguirão reverter a condição humana, por conta de uma poção misteriosa. Ao finalzinho do conto, Eufêmia dá a luz a um filho mestiço e também com traços vampíricos herdados do seu relacionamento com o Príncipe. É o primeiro personagem do gênero registrado na literatura norte-americana – e isso lhe dá uma importância fundamental.
Para o pessoal do site The Conversation a importância da obra The Black Vampyre é grandiosa e se espelha na contemporaneidade: ” The Black Vampyre tem uma ressonância contemporânea. O racismo cultivado pela escravidão continua vivo; continua a luta contra ela e os sonhos de humanidade universal expressos na Revolução Haitiana. As ligações que o Vampiro Negro faz entre a opressão racial e uma sociedade vampírica, embora ambivalente, fazem sua ressurreição valer a pena. A crueza e o caráter assustador das narrativas góticas de vampiros ainda podem ter uma força ética.”
Para nós da RedeVamp #VAMPIROSNEGROS não são algo que começou agora, lá fora já está rolando há algumas décadas! Mas aparentemente no Brasil as pessoas parecem terem preguiça de pesquisarem e de produzirem conteúdo mais abrangentes. Honestamente, parece que as pessoas preferem a gratificação de ficarem repetindo “chavões completamente furados” , tais como:
- “Vampiro é um mito importado e de colonizador” (se formos pensar a maior parte das mitologias e folclores americanas também o são – inclusive a figura de Cristo ou de Buda também – mas leia o item 2);
- “Não existe nada disso de Vampiro na América do Sul” (O que é definitavamente papo furado de gente desinformada! Na parte da produção cultural só no Brasil já mapeamos mais de 170 anos de obras de temática Vamp, bem aqui! Pouco satisfeitos ainda apontamos quem são os primeiros vampiros do Brasil, leia aqui. Se partirmos para a questão da América Pré Colombiana o assunto vai longe! Leia aqui e aqui também);
- 3)”E a pior de todas: Como assim Negro ou Negra pode ser Vamp?” O nome disso é preconceito. Qualquer pessoa que aprecia o contexto Vamp pode ser um Vamp e ponto final. Quanto ao que é ser um Vamp, recomendamos a leitura do texto Primeira Visita deste site. Enquanto pessoas ou ainda comunidade temos hojeriza a racismo e preconceito. Há algumas variações ainda nesse sentido de pessoas que ofendem outras dizendo que negros não podem ser góticos, vamps, undergrounds ou alternativos e etcs… e isso é racismo e preconceito – NÃO TEMOS ESPAÇO PARA RACISTAS E PRECONCEITUOSOS NA COMUNIDADE VAMP (também não toleramos assediadores e abusadores de nenhum tipo, leia mais aqui) E só para concluir o terceiro item este link vale mais do que 1000 palavras (e apresenta uma listagem de marcas e grifes undergrounds e alternativas criadas e gerenciadas por artistas e empresários negros).
- 4)Ah mas de #VampirosNegros só tem o Blade e a Akasha… não tem mais ninguém no imaginário ou na Cultura Pop e… olha só numa pesquisa rápida achamos mais de 20 personagens desde os anos setenta e listamos todos eles a seguir… então por aí já vemos que estava ausente um espectro e uma circulação maior de informações sobre este contexto – entre os apreciadores mais distintos e mesmo na chamada cultura pop brasileira.
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