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inconfidencia mineira e origens do vampirismo no brasil

A INCONFIDÊNCIA MINEIRA E AS ORIGENS DO VAMPIRISMO NO BRASIL

A INCONFIDÊNCIA MINEIRA E AS ORIGENS DO VAMPIRISMO NO BRASIL: É um título apelativo eu sei, mas já que ganhei sua atenção com ele é melhor partir logo para o conteúdo.

Vamos falar sobre o cancioneiro e poeta Manuel Inácio Silva e Alvarenga, que nutria em sua obra um amor incondicional pela imagem que evocava com suas palavras. Atributo muito claro aos Vamps da contemporaneidade – que nomeiam isso como reificar sonhos.

Acontece que Manuel também acaba sendo o primeiro poeta a se servir do termo Vampyr/Vampyro na literatura brasileira entre 1799 e 1801. E como se não bastasse ainda participou de um movimento chamado “Inconfidência Mineira” – o que por si já rende um imaginário fantástico; com um repertório onde encontraremos a maçonaria e mesmo o herói nacional chamado Tiradentes. Além de outros temas que seriam melhores apreciados lendo esta outra postagem.

Esclarecido tudo isso, meu título não é tão apelativo ou escandaloso assim.

A INCONFIDÊNCIA MINEIRA, CIDADES HISTÓRICAS, ALEIJADINHO E A MAÇONARIA

Por algum tempo cheguei a jurar que os primeiros usos do termo Vampyro ou Vampiro no Brasil seria Paulista ou Carioca. Cheguei a cogitar Recife, afinal lá é bem rico de histórias e causos pouco usuais. Mas no final das contas são nossos nobres amigos e amigas de Minas Gerais quem levam a titularidade.

Inesperado?

Ao menos para mim esta foi uma constatação totalmente inesperada.

Ainda bem que nunca fui do tipo que jurava ter sacado algo que ninguém mais sacou ou ainda pior que tudo isso houvesse começado comigo. Deixemos estes vãos questionamentos para o mundano.

ANTES UMA DEDICATÓRIA

Como no decorrer deste artigo vamos rumar para Minas Gerais, devo acrescentar meu carinho e simpatia pelos nobres leitores e leitoras deste grandioso estado. Recentemente (outubro/2022) visitamos Belo Horizonte, sua capital, onde fui um dos Guests Djs no evento Halloween da Obscura, dos queridos Jéssica (Obscura) e Joubert Thaumiel. Pessoas queridas e hospitaleiras que nos acolheram durante o final de semana em sua morada. A Comunidade Vamp do Brasil já os conhecem como a banda Night Virus, que participaram de nossos festivais onlines e já entrevistamos no #AcessoRedeVamp, assista aqui. Logo adicionaremos um post sobre o evento maravilhoso que fizemos parte.

O Estado de Minas Gerais também recorda os amigos Bira e Yugh, lá de Juiz de Fora da banda Permaneço Deitada, que participaram de nossos festivais onlines; entrevistamos eles também no #AcessoRedeVamp, assista aqui e que ainda participei do seu festival online, leia mais aqui. Também é a terra do estimado Toninho Buda, do Manual Prático do Vampirismo. E como não mencionar o pitoresco Festival Woodgothic que toma lugar na surreal cidadezinha de São Tomé das Letras, organizado pela banda Escarlatina Obsessiva – evento que participei da edição de estreia como DJ há bem mais de uma década. Enfim, minhas saudações aos nossos leitores e leitoras de Minas Gerais!

“A NOITE” E O VAMPYRO TINTO DE SILVA E ALVARENGA

Embora seja atraente falarmos da primeira vampira brasileira, na obra do Barão de Paranapiacaba acredito ser ainda mais interessante pontuarmos o que parece ser a primeira vez que o termo “Vampyr” adentra nossa literatura.

Isso acontece na poesia “A Noite” de Silva Alvarenga (1749-1814), publicada em meados dos 1800´s e é considerado pelos acadêmicos como um pré-romântico que estava deixando o arcadismo.

O poeta oferece um “rondó” uma composição poética com estribilho constante. Ele também participou da Inconfidência Mineira, o que lhe custou a prisão entre os anos de 1794 e 1797. Parte considerável de sua obra desapareceu por conta disso. Restando apenas os poemas publicados em vida, tais como O Desertor das Letras (Coimbra, 1774) e Glaura (Lisboa, 1801) ou os que andavam dispersos no jornal O Patriota (1813-1814) e no Parnaso Brasileiro (1809-1811), editado por Januário da Cunha Barbosa.

Manuel era um herdeiro do apreço tumular inglês que aos poucos corroía os prados árcades. Quem inclusive levanta esta lebre é meu nobre amigo Cid Vale Ferreira no seu livro Voivode. Aliás temos uma entrevista bem bacana como ele neste link, gravada no #AcessoRedeVamp. Melhor do que escrever a respeito é oferecer a poesia para vossa apreciação:

A noite

Ouve, ó Glaura, o som da Lira,

que suspira lagrimosa,

amorosa em noite escura,

sem ventura, nem prazer.

Tem a noite surda e fera

carro de ébano polido:

move o cetro denegrido

toda a Esfera vê tremer.

Forma o tímido desgosto

mil imagens da tristeza,

que assustada a natureza

volta o rosto por não ver.

Ouve, ó Glaura, o som da Lira,

que suspira lagrimosa,

amorosa em noite escura,

sem ventura, nem prazer.

Ao ruído destas águas

vinde, ó sonhos voadores,

de Morfeu co´as tenras flores

minhas mágoas suspender.

Mas se amor alívios nega,

quanto o peito mais inflama:

só aquele, que não ama,

é que chega a adormecer.

Ouve, ó Glaura, o som da Lira,

que suspira lagrimosa,

amorosa em noite escura,

sem ventura, nem prazer.

220 ANOS DE VAMPIROS NO BRASIL?

Ao falarmos de “A Noite”, este singular rondó de Silva e Alvarenga falamos de 220 anos de vampiros na cultura brasileira. Uma notícia triste para o pessoal do vampiro é mito importado e blá-blá-blá. Deixaremos de lado o vampiro na civilização pré-colombiana e ameríndia nesta contagem, mas você pode ler sobre isto aqui; também não incluiremos os vampiros originais dos povos nativos, falamos deles aqui neste outro artigo. Pois daí a contagem de tempo se perde de vista.

Este dado curioso nos permite ampliarmos a contagem de tempo na qual aparecem os vampiros na literatura brasileira. Sempre fizemos a tal contagem a partir da poesia Octávio e Branca o que hoje rende 170 e poucos anos. Fato é que na segunda metade do XIX tivemos mais obras vampirescas por aqui, leia este artigo.

Contudo, se tomarmos “A Noite” de Silva Alvarenga, publicado (provavelmente) entre 1799 e 1801, ampliaremos a contagem para aproximadamente 222 anos de vampiros em nossa literatura brasileira agora em 2022.

Tempo considerável.

Nossas raízes vampíricas, antecedem John Polidori e Lord Byron, celebremos! Nos arremessam diretamente a Colleridge e outros. Fizemos um artigo bem abrangente sobre Nossos Ancestrais Vampíricos: Centenários e Bicentenários neste outro artigo – leia agora. E não poderíamos deixar de citar a importância das vampiras na literatura, neste outro artigo.

Agora me diga, seu mundo ficou mais estranho depois de saber tudo isso?

OUTRAS MENÇÕES HONROSAS QUE FALTARAM

Convêm selarmos uma lacuna em nossas publicações sobre este tema e incluímos algumas menções relevantes sobre aparições vampíricas objetivas ou subjetivas em nossa literatura. Nessa visão de mulheres voluptuosas que retornam da morte em busca dos prazeres, temos o capitulo Solfieri, de Noites da Taverna do Álvares de Azevedo (1831-1852), como é literatura pré-vestibular deixo ao encargo dos leitores as opiniões.

Meu amigo Cid utiliza um termo chamado “Eupiro” que é interessante se pensarmos nas abordagens vampiricas mais subjetivas dos poetas Casimiro de Abreu (1839-1860) e Castro Alves (1847-1871). E não poderíamos deixa de incluirmos Augusto dos Anjos (1884-1914) no belo soneto O Morcego.

Bom vou parar por aqui, ao menos por hoje. 220 Anos de Vampiros e Vampiras no imaginário brasileiro é algo para ser celebrado com alguma ênfase, ao menos por quem aprecia tudo isso. Quem sabe aos poucos inserimos no imaginário do Dia dos Vampiros, data oficial de nossa cidade – que realmente há nomes, menções, obras e ações interessantes produzidas e celebradas localmente. Não é mito importado e tampouco personagem estrangeiro.

Mas para o resto do mundo que não é da Comunidade Vamp e tampouco alguém que se importe tanto com tudo isso, continuamos como uma curiosidade interessante.

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