O Diabo Me Fez Fazer Isso (Parte II)
Devido aos pedidos de leitores ansiosos para saber o desfecho deste caso, resolvi adiantar a postagem que estava programada apenas para hoje a noite. Se você não leu a primeira parte deste artigo, por favor, leia antes de continuar.
Como eu havia dito anteriormente, Deborah “Debbie” Glatzel e seu noivo Arne Cheyenne Johnson saíram da casa e foram morar em um apartamento mais próximo ao local de trabalho de Deborah. O dono do apartamento era Alan Bono, que por sinal, também era chefe de Deborah no hotel para pets onde ela tinha recentemente arranjado emprego.
Mas se Arne e Deborah pensavam que saindo de perto de David e da casa onde aqueles estranhos acontecimentos tomavam lugar, conseguiriam levar uma vida normal e tranquila, logo perceberiam que estavam bem enganados.
Tudo começou com uma leve alteração no temperamento de Arne que começou a irritar-se com qualquer coisa. Ele sempre havia sido um rapaz bastante calmo e centrado, difícil de tirar do sério. Debbie começou a ficar preocupada, mas tentou não fazer nenhuma comparação com o caso do seu irmão mais novo, pelo menos não naquele momento.
Porém, para o seu total desespero, o caso de Arne evoluiu rapidamente para os transes em que ele grunhia, rosnava e convulsionava. Quando voltava a si, não se lembrava de nada que havia feito, dito ou do que tinha acontecido. Durante vários desses episódios, Arne gritava que podia ver “A Besta” (nome que havia sido dado para a legião que havia perturbado David) olhando para ele. Os transes começaram a ficar mais frequentes e o comportamento de Arne mais estranho a cada dia, exceto em seu ambiente de trabalho, onde seus colegas diriam que ele nunca havia demonstrado qualquer alteração de humor ou comportamento.
Mas em 16 de fevereiro de 1981, o inferno se instalaria de vez na vida de Deborah e Arne Johnson.
Após uma confraternização acontecida durante um almoço, Arne Johnson e Alan Bono começaram a discutir, porque, segundo testemunhas, Alan Bono havia exagerado na bebida e começado a ficar bastante desagradável. Arne que andava bastante irritadiço, logo entrou em um dos seus transes e começou a grunhir e a rosnar. Deborah e sua irmã Wanda ainda tentaram apartar a briga iminente, mas não conseguiram conter Arne que sacou um canivete do seu bolso (que sempre carregava consigo, devido à sua profissão) e partiu para cima de Alan Bono, acertando diversas facadas em seu tórax e abdômen.
Alan Bono morreu algumas horas depois no hospital. Arne Johnson, que não tinha antecedentes criminais de qualquer tipo e que havia fugido do local, foi detido há centenas de quilômetros da cena do crime e acusado de homicídio qualificado. Na época, ele alegou não lembrar-se de nada sobre o incidente.
O caso por si só já era excepcional por ter sido o primeiro assassinato registrado na história da cidade de Brookfield. E como se tudo já viesse tomando um caminho bastante estranho, no dia seguinte ao assassinato, Lorraine Warren saiu na defesa de Arne Johnson, alegando que ele estava possuído por “demônios” quando cometeu o crime e que David Glatzel afirmava ter visto os espíritos que o atormentavam saírem do seu corpo e entrarem no corpo de Arne quando ele os confrontou, meses atrás.
Vocês podem imaginar o rebuliço que tal declaração gerou, não é mesmo? O caso chegou ao tribunal e ficou conhecido como “O Diabo Me Fez Fazer Isso” e também como “O Julgamento do Demônio Assassino”.
Sim, o advogado de defesa de Arne, Martin Minnella, decidiu usar a suposta possessão demoníaca como defesa legal para o seu cliente. Esta se tornou a primeira vez na história dos Estados Unidos em que a defesa tentou provar a inocência, argumentando possessão demoníaca, e, portanto falta de responsabilidade sobre seus atos. Ao pesquisar a viabilidade de utilizar tal argumento, Martin Minnella descobriu que apesar de não ter precedentes nos Estados Unidos, havia dois casos na Inglaterra onde a defesa havia usado o argumento da possessão como tentativa de provar a inocência do réu.
O julgamento de Arne Cheyenne Johnson teve início em 28 de Outubro de 1981.
Martin Minnella tentou apresentar uma alegação de inocência em virtude da possessão, mas o juiz prontamente rejeitou esta alegação, mesmo que o advogado tivesse apresentado gravações dos padres aprovando o exorcismo e fotografias chocantes de Arne Johnson ajoelhado sobre David pressionando um crucifixo contra a sua testa e outra em que ele continha David, com o crucifixo quebrado ao lado dele. Segundo o juiz, não haveria como comprovar cientificamente que aquelas evidências tinham relação direta com o crime cometido. Sendo assim, Martin Minnella, após uma rápida conversa com seu cliente, entrou com a alegação de que Arne Johnson tinha agido em legítima defesa. Após três dias de deliberações, o júri chegou à conclusão de que Arne era culpado de homicídio culposo em primeiro grau e ele foi condenado a cumprir entre 10 e 20 anos de prisão, dos quais só cumpriu apenas cinco devido ao seu bom comportamento.
Após o julgamento, o frenesi que havia tomado conta da imprensa de todo o país diminuiu consideravelmente.
Mas a história ainda não tinha acabado, meu querido leitor.
Lorraine Warren ajudou Gerald Brittle a escrever um livro sobre o incidente. O livro foi lançado em 1983 com o título de “The Devil in Connecticut” e muitos o viram como uma tentativa barata de Warren ganhar dinheiro à custa do sofrimento da família Glatzel, mas Warren logo saiu em sua defesa, afirmando que os ganhos com o livro seriam doados para a família Glatzel, que após todo esse rebuliço, estava em situação financeira bastante difícil.
O livro foi relançado em 2006 e para a surpresa de todos, David Glatzel e seu irmão Carl Glatzel Jr. entraram com um processo contra a editora, alegando que a nova edição trazia sofrimento emocional à sua família, violava sua privacidade, além de conter uma boa quantidade de difamações. E foram mais além! Os dois diziam que tudo não havia passado de uma farsa, mas sua irmã Deborah e o próprio Arne Johnson os contradiziam, afirmando que a história tinha se desenrolado como consta no livro e que provavelmente David e Carl apenas estavam querendo ganhar algum dinheiro com a ação.
E o que aconteceu com os espíritos malignos que supostamente atormentaram essa família por tanto tempo?
Por mais estranho que seja, David Glatzel nunca mais teve nenhum problema relacionado aos demônios que supostamente foram transferidos para Arne, que por sua vez, após passar cinco anos na prisão, também nunca mais foi atentado por eles.
Então, meus queridos leitores, o que vocês acham deste caso? Entidades malignas realmente poderiam ter realmente arranjado uma nova casa no corpo de Arne e o levado a cometer o assassinato? Será que realmente existe alguma força obscura que possa obrigar um ser humano racional a cometer atos perversos que nunca imaginaram cometer e se sim, quem deveria ser responsabilizado? Ou será que tudo isso não passou de histeria e de alucinações? Como seria possível provar tais eventos? Será que é possível que todos os seres humanos tenham um lado monstruoso e bestial escondido em algum recanto de sua alma – ou da sua psique – aguardando apenas uma baixa na guarda para se revelar?
Eu sei que você tem as respostas na ponta da língua. Mas você realmente pensou e refletiu sobre elas? Será que acredita mesmo na primeira resposta que vem a sua mente? Antes de tentar achar suas respostas, pense e reflita sobre todos os elementos deste caso.
Fico no aguardo dos seus comentários ou reflexões que podem ser deixadas nos comentários abaixo, enviadas para o e-mail [email protected] ou por mensagem no perfil facebookiano da Via Escarlate.
Mantenham-se sãos e salvos e os encontrarei em breve em meio a penumbra que recobre esta via escarlate.
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