NÃO HÁ MAIS DIVISÃO ENTRE CULTURA E ENTRETENIMENTO, DIZ ESCRITOR

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NÃO HÁ MAIS DIVISÃO ENTRE CULTURA E ENTRETENIMENTO, DIZ ESCRITOR

“Vim aqui para anunciar uma triste notícia. O fim do livro e do jornalismo cultural.”

Foi assim que o jornalista e escritor francês Frédéric Martel abriu, na tarde desta terça (29), o debate sobre futuro da literatura, no teatro Tuca, em São Paulo. O evento faz parte da programação do 4º Congresso Internacional Cult de Jornalismo Cultural.

O tom da fala de Martel, contudo, estava bem longe do funesto. Para ele, a dupla morte abre espaço para uma época de renascimento, para a emergência da diversidade cultural e o fim das hierarquias culturais.Leia Mais>>

“Há pessoas que defendem um modelo cultural elitista, que têm medo da vulgarização. Mas a cultura mudou. A ideia de que poderia haver uma divisão entre cultura e entretenimento está completamente apagada. A gente pode ler Montaigne e de noite querer ver ‘Avatar’, sem por isso ser doente.”

Ele destacou também que a revolução digital poderá beneficiar sobretudo os países emergentes, como o Brasil. “Muitas pessoas temem o mundo no qual estamos entrando. Mas não é recusando o livro digital e a globalização que ficaremos mais fortes. Abrindo-nos para o mundo é que vamos nos abrir para o futuro.”

Mariza Werneck, professora da PUC-SP, argumentou que o suporte da leitura (pedra, papiro ou livro, por exemplo) não é o ponto mais importante do problema. “Talvez, mais que a perda do objeto livro, a minha verdadeira nostalgia seja: qual é o lugar da leitura hoje? Qual o lugar do silêncio no mundo digital? Não posso pensar em um suporte que não possibilite a reflexão.”

Ao suposto fim do livro em papel seguiu-se o debate sobre os direitos autorais na época digital. A professora explicou que os conceitos de autoria e originalidade surgem apenas no século 18 e podem “desaparecer da mesma forma como surgiram”.

Já para o escritor Joca Terron, que também fazia parte da mesa, o direito autoral caminha para a dissolução total. “O leitor que principia a leitura raramente percebe o nome do autor na capa. Tenho a impressão de que é uma ideia totalmente artificial.”

O escritor também não acredita que o fim da ideia de direito autoral possa prejudicar a criação literária. “A criação é pura cópia, não será prejudicada. As coisas se recriam, se modernizam, assumem novas formas.”

Martel, por outro lado, defendeu que a noção de autoria será fortalecida nos próximos anos.

“Acho que com o digital vamos ver a consagração do direito autoral. Essa é a condição da liberdade do artista. O que não quer dizer que não deva evoluir, adaptar-se às mudanças.”

FONTE ORIGINAL

QUEM É FREDERIC MARTEL?

Frederic Martel é doutor em sociologia, pesquisador, jornalista, professor e apresentador do principal programa de informação da Radio France sobre as indústrias criativas e os meios de comunicação.

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