As origens de Akasha, a Rainha dos Condenados: O espírito de Amel e aqueles que devem ser mantidos!
Recordando a importância de “Amel”, o Criador de Akasha e o Pai de todos os Vampiros do universo ficcional das Crônicas Vampírescas de Anne Rice
“Mekare, por suas mentiras malignas e suas conversas com os demônios, terá a língua arrancada da boca. E Maharet, pelo mal que imaginou e tentou nos fazer aceitar, terá os olhos arrancados também! E passarão a noite amarradas uma à outra, para que possam ouvir o pranto uma da outra, uma sem poder falar, a outra sem poder enxergar”
E uma profecia foi proferida contra a rainha :”Você é a Rainha dos Condenados, é isso que é! Seu único destino é o mal, como sabe muito bem! Mas vou impedi-la, mesmo que para isso tenha que retornar dos mortos. Na hora do seu maior perigo, serei eu quem vai derrotá-la! Serei eu quem vai destruí-la! Olhe bem para o meu rosto, porque vai vê-lo de novo!
Akasha, a Rainha de todos os Condenados do universo de Anne Rice tornou-se uma personagem reconhecida mundialmente graças ao filme “Rainha dos Condenados” (Queen of The Damned do comecinho do século XXI). O filme abordou a personagem de forma bastante superficial, mas a interpretação da cantora Aaliyah foi bastante bela e convincente – criando uma das raras personagens vampiras e negras, cultuada pro fãs até hoje. Sequer a diva Grace Jones dos anos oitenta foi tão bem sucedida em outras produções vampirescas. Nos livros que integram as “Crônicas Vampírescas” da escritora Anne Rice, não há especificidades étnicas se Akasha era negra ou branca. Anne a descreve como uma jovem e linda mulher, que ela “era quase bonita demais para ser realmente bela, pois sua beleza superava qualquer ar de majestade ou de mistério;”. Por trás de sua beleza física, Akasha era uma pessoa obscura , vazia, niilista, sem nenhum senso de moralidade,as suas ações eram quase sempre baseadas em suas questões emocionais e sua necessidade de preencher seu vazio interior.
Nas adaptações para os quadrinhos da década de noventa ela era retratada da cor do mármore ou com traços egípcios de acordo o olhar de cada desenhista. E invariavelmente seus traços “vilânicos” e cruéis eram ressaltados nestas obras. De fato, ela é uma rainha e bastante tirânica ou as coisas são do seu jeito ou simplesmente não são… e tal postura forçosa é o que a transformará na deusa dos vampiros deste universo ficcional. Mas o que as pessoas esquecem é como tal fato aconteceu. O que é bastante chato, pois foi uma transformação em vampira bastante original e cujo o desenrolar notoriamente influenciou muitos filmes e livros posteriores.
Não existiam vampiros antes da rainha Akasha e seu rei Enkil, nas terras de Kemet ou do Egito contemporâneo se preferir. Como eram reis civilizadores, que existiram muito antes da linguagem escrita, buscavam o desenvolvimento de seu povo em diversas áreas, instituíram o culto ao Deus Osíris. incluindo o consumo de grãos e a agricultura ao invés do canibalismo que ainda imperava em algumas comunidades de lá. Um dia descobriram que existia uma comunidade primitiva com uma linhagem de bruxas poderosas e primitiva de costumes canibais com cabelos vermelhos capazes de feitos épicos desde a idade da pedra. No universo de Anne Rice esta história aconteceu quase há quatro milênios antes de Cristo. E tudo se inicia quando as bruxas e irmãs-gêmeas Mekare e Maharet daquela tribo são convocadas a corte de Akasha e de Enkil para demonstrarem seus dons e poderes – e assim satisfazerem a curiosidade da rainha quando ainda era humana. A menção a linhagens sanguíneas com poderes psíquicos e espirituais sempre foram comuns nas obras do escritor inglês Arhtur Machen (do século XIX) e na mesma época que Rice escrevia sua crônicas nos anos setenta , um outro ocultista britânico chamado Kenneth Grant também mencionava linhagens semelhantes e atribuídas a filhos de deuses e deusas. O que aliás é um tema interessantíssimo para quem aprecia a temática Vamp e tradições hindus como a a do “Varma Magra” – a idéia está lançada, tentem a obra Vampiros Rituais de Sangue de Marcos Torrigo para expandirem o tema
De volta ao universo de Anne Rice, a história se torna mais interessante, algum tempo antes da convocação de Akasha. as irmãs Mekare e Maharet perdem sua mãe, que cai vítima de um ataque realizado por um espírito chamado Amel, que provavelmente lhe mata envenenando seu sangue com um ataque sutíl e alegando que em breve seus feitos seriam necessários. Ele era apenas um espírito poderoso que tinha sede implacável de sangue e o arrancava das pessoas com um corte. A mãe de Mekare e Maharet agonizou por seis meses antes de morrer. A tradição milenar daquela tribo demandava que as filhas e sacerdotisas se alimentassem do coração e do cérebro da sacerdotisa anterior (sua mãe) para assim manterem o poder. Um costume barbárico, mas o ritual não poderá ser devidamente finalizado pelas irmãs, pois elas serão capturadas pelo general Khayman e os soldados da rainha que foram lá busca-las a força para satisfazerem a curiosidade pelo outro mundo de Akasha.
As origens do espírito Amel serão explicadas quase uma década e meia depois em “Memnoch – The Devil”- na incomum cosmologia do universo de Anne Rice, há um anjo chamado Memnoch (que bem poderia ser Lúcifer ou Satã do Cristianismo ou ainda Iblis, o acusador dos muçulmanos) que é o responsável por levar as almas que valem a pena do incerto destino no Sheol para viverem entre os anjos no céu. Mas nem todas as almas valem a pena ou reconhecem sua nova existência como “almas”. Entre elas há o espírito de Amel, que se tornou profundamente atrelado as coisas da Terra e que com o passar dos séculos esqueceu de sua humanidade e tornou-se perigoso para os habitantes do nosso planeta, pois era um espírito sedento pelo sangue humano, o que acabará por envolve-lo nos eventos do surgimento dos vampiros… naturalmente se presumirmos que Memnoch contou a verdade ao Vampiro Lestat. De forma interessante a criação destes deuses-menores será abordada por Rice, mais explicitamente na obra “O Servo dos Ossos” e ainda na Saga das Bruxas da Família Mayfair, junto da questão das assombrações e também dos seres conhecidos como “Taltos”.
Veremos que as bruxas gêmeas chegam a corte de Akasha e Enkil e irão realizar atos de grande poder e impressionarem a todos – embora fossem mantidas como prisioneiras. O ponto máximo é quando a rainha obriga as jovens a invocarem poderosos espíritos para lhe responder sobre diversas questões – e o teor das respostas obtidas não agradam nenhum pouco aos governantes – um espírito chamado Amel informa que todos os Deuses de Kemet são espíritos poderosos, que assim como ele, apenas encenam serem deuses para obterem culto e sacrifícios dos tementes e devotos de lá. Leitores e leitoras mais aptos podem imaginar quão embaraçoso poderia ser tal fato para um governo pautado em governantes como filhos de deidades e não exatamente de espíritos. E dado ao temperamento de Akasha e a confusão generalizada que tal rito provocou – o pior aconteceu – o próprio Amel , reconhecido como um espírito sanguinário ameaça Akasha e a desfere um golpe demonstrativo de sua força – provavelmente tomando umas gotas do seu sangue- antes de desaparecer.
O Rei Enkil toma as dores da amada e para demonstrar poder perante todos e que ambas não ofereçam nenhum risco a ele ou sua rainha, as toma como esposas, mas ordena que seu general Khayman estupre as duas bruxas em público e que depois elas fossem expulsas do reino de Kemet. Guardadas por outros bons espíritos, o Amel desaparece de suas vidas, elas fazem sua viagem de volta ao seu povo com a ajuda das caravanos dos beduínos. Depois de algum tempo Maharet dá a luz a uma linda menina que será batizada como Míriam, por herança matrilinear a próxima sacerdotisa daquele povo.
No entanto, após algum tempo o general Khayman e seus homens retornam e convocam Maharet e Mekare a retornarem para o Egito e auxiliarem seu Rei e Rainha numa situação muito grave. Maharet se vê obrigada a deixar sua filha junto das anciãs da tribo e assim as gêmeas partem novamente para o Egito. Mal elas sabiam que novamente confrontariam o espírito Amel e que desta vez as consequências seriam nefastas para todos e de proporções inconcebíveis e jamais vistas antes.
Após os acontecimentos do rito mal sucedido, o espírito Amel passou a assombrar o Rei e a Rainha com efeitos de poltergeist e infestando com loucura os regentes – e ainda atormentando a Khayman por ter participado do estupro, destruindo sua casa, sua família e até exumando o corpo do seu pai do túmulo. Os nobres foram se enfurecendo com Enkil e Akasha e planejaram seu assassinato. Uma funesta conspiração de adeptos dos antigos costumes (leia “canibalismo) armaram uma cilada para Akasha e Enkil e que durante a tentativa de assassinato dos reis o espírito de Amel se fundiu ao sangue, ao coração e ao cérebero de Akasha – possuindo-a com uma sede irrefreável de sangue e estranhos dons das trevas em seguida transmitidos para seu rei. Agora dotados de estranhos poderes, eles nunca mais foram vistos a luz do sol e muitas mortes sem explicação passaram a acontecer no reino. Todos os conspiradores foram executados de maneiras misteriosas. Não preciso explicar a partir daí que Akasha e Enkil tornaram-se os primeiros vampiros da história deste universo ficcional de Anne Rice. Sendo assim os vampiros deste universo ficcional; nascem da fusão de um ser incorpóreo sedento de sangue e de um humano.
O General Khayman tinha esperanças de que as bruxas gêmeas pudessem curar a Rainha e o Rei, mas foi um ledo engano, não havia mais o que ser feito a não ser mata-los – assim poderiam evitar um mal ainda maior para a humanidade. Maharet e Mekare foram sentenciadas a morte por sugerirem o regicídio, No auge dos acontecimentos, Maharet amaldiçoou a Akasha prometendo que teria sua vingança, depois disso foram presas e torturadas. Maharet teve suas língua decepada e Mekare seus olhos arrancados. O desfecho trágico revelou-se ainda pior, Khayman ressurge na cela onde as gêmeas estavam aprisionadas, atormentado com sua recente transformação em vampiro, realizada por Akasha, e planejando sua vingança contra a Rainha dos Condenados transforma Mekare em vampira; que a seguir transforma sua irmã gêmea Maharet. O trio escapa da prisão e transforma outras pessoas em vampiros, com a esperança de formarem um exército para confrontarem Akasha e Enkil que ficará conhecido como primeira geração ou “primeira ninhada”. Mas o plano dará errado algumas semanas depois, as gêmeas são capturadas e trancafiadas em pesados caixões de pedra e jogados nas profundezas do oceano. Maharet conseguirá escapar do seu confinamento em alguma parte distante da Africa e viverá os próximos milênios cuidando dos descendentes de sua linhagem humana iniciada por sua filha Míriam e buscando sua irmã Mekare – acredita-se que Mekare se liberata do seu confinamento alguns séculos depois, mas enlouquecida desaparece da civilização, sendo as únicas pistas pinturas rupestres de uma mulher selvagem ruiva em ruínas da América do Sul e da Africa.Khayman será amaldiçoado com a perda da memória nos séculos que virão…
Ambas as irmãs viverão os milênios seguintes separadas e se reencontrarão nos fatídicos eventos do livro A Rainha dos Condenados. Cujo a adaptação cinematográfica foi bastante empobrecida de personagens e mesclou numa figura só ambas as bruxas-gêmeas. No livro, o final é um pouco mais escatológico e Akasha ao ser derrotada tem seu coração e cérebro devorado por uma das gêmeas – que toma para sí o poder de Amel e torna-se a nova rainha dos condenados, e o corpo se torna de mármore.
A nova vida vampírica de Akasha e de Enkil foi bastante fecunda e eles tornaram-se uma espécie de encarnação viva dos deuses para os que moravam em sua região. Conforme criaram outros vampiros (…) sua necessidade de sangue diminui, Eventualmente (junto com Enkil) tornam-se em estátuas vivas, que foram guardadas durante séculos pelos responsáveis que sabem que ela é a fonte da sua existência e imortalidade. Um destes guardiões coloca Akasha e Enkil ao sol; vampiros de todo o mundo são queimados ou destruídas como resultado de todos estarem ligados pelo espírito de Amel, que ainda reside no Akasha. Por isso com o “Dom Da Mente” pede a , Marius ,na época recém criado, que a leve para fora do Egito, juntamente com Enkil. Marius assim o faz e os “protege” por quase dois mil anos.(…) Nos romances de Anne Rice, Those Who Must Be Kept (em português, “Aqueles Que Devem Ser Mantidos“), são os progenitores de todos os vampiros que também são considerados como o Rei e a Rainha dos Vampiros.(…) O termo “Aqueles Que Devem Ser Mantidos” foi expressado pelo vampiro Marius referindo-se ao facto de que, o que recai sobre Akasha e Enkil, também recai sobre todos os vampiros, se eles estão feridos, assim estarão seus filhos, se eles morrerem, também todos os vampiros morrerão. Um exemplo disto, é explicado na história da vida de Marius: O zelador actual dos dois tentaram livrar-se deles, e colocou-os no sol. Os dois sobreviveram, mas os vampiros mais fracos foram destruídos por combustão espontânea.Muito antes, Marius entrou em tutela no “Aqueles Que Devem Ser Mantidos, Enkil e Akasha foram quase que completamente inanimados, sentados, aparentemente inconscientes durante séculos, sem se mover.(…)
No livro “A Rainha dos Condenados”, a própria Akasha se apresenta como a Rainha dos Céus. Nome que a iguala com Innana e outras deusas primervas do oriente. E seu plano reinar no mundo junto ao seu novo consorte, o Vampiro Lestat, é mais interessante e profundo.do que o do filme que apenas a apresenta como um bicho-papão. Nas páginas do livro (…) ela se levanta com a complexa teoria, de que se a maioria dos homens fossem destruídos, o resultado seria a paz mundial, sem guerras, estupros e violências gratuitas e a população masculina só poderia crescer quando eles aprendessem o respeito e paz com as mulheres. Akasha então seria a deusa e rainha deste novo bravo mundo.(…)
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Agradecimentos:
Srta Xendra Sahjaza, por me fazer revisitar a cosmogonia de Anne Rice e ainda por vestir e interpretar a Rainha dos Vampiros em nosso evento FANGXTASY; Assista o vídeo aqui | Veja o Making Off | e leia as palavras dela sobre este feito!
Marcelo Del Debbio e seu livro Vampiros Mitológicos, por me recordar das leis vampíricas e de que Akasha se transforma em vampira há apenas 4000 anos antes de Cristo;
Marcos Torrigo por ter escrito o primeiro livro sério e denso sobre Vampiros no Brasil lá no comecinho do século XXI e que até hoje permanece como uma obra de consulta e referências fundamental do gênero em nosso idioma – inclusive realizamos uma palestra juntos comemorando estes primeiros dez anos da publicação deste livro no Encontro Vamp de 2012 em Paranapiacaba!
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