"Sou o Vampiro Lestat!"
Um novo artigo de Lord A:.
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Lembro que encontrei o Vampiro Lestat nos primeiros anos da década de noventa e logo ele se tornou um companheiro da minha jornada ao longo da vida – ocupando um canto apenas seu na minha mente. Cada leitor ou leitora cria sua própria versão de um personagem que conquiste sua estima, fui afortunado assistí ele interpretado nos cinemas por Tom Cruise e Stuart Townsend; assim como fui mesmerizado por suas versões nos quadrinhos no traço de Daerick Gross, Octávio Carriello e outros. Alguns anos atrás ao ler uma declaração de sua criadora, a grande escritora Anne Rice – observei que ela alegava que Robert Downey Jr com a devida maquiagem e caracterização seria uma de suas versões favoritas do personagem, criei uma ilustração e lhe encaminhei pelo facebook – e fui presenteado com uma menção honrosa e uma citação generosa pela Grand Dame de New Orleans. Eu sou Lord A:. e compartilho com vocês este artigo dedicado ao Vampiro Lestat.
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“Lestat e eu estamos dançando, dança lenta como a dos jovens na década de 50, ele está me segurando e eu estou inclinada contra ele, nós mal nos movemos na pista de dança. O bar escuro e quase vazio. Apenas as luzes da caixa de juke neste canto. E esta é a minha canção para ele, – jogando na JukeBox. “Hoje à noite você é meu … completamente.” Ah, como eu senti sua falta. Como eu tenho ansiado por você. Oh, o quanto eu te amo. “ Postado por Anne Rice em sua fanpage no Facebook, causou um alvoroço no peito da autora do site “Sanguiinem Emere” no qual parte considerável deste artigo foi inspirado.Os trechos entre aspas serão traduções daquele artigo.O restante pertence a este autor que vos escreve.
Lestat, talvez o mais perfeito dos Vampiros jamais criados, surgiu em algum momento da metade dos anos setenta nos escritos da jovem Anne Rice.Uma espécie de alter ego e de tudo aquilo que a autora almejava ser após o óbito de sua filha ainda criança – e uma tentativa de dialogar com aquilo que ela conseguia ser naquele momento. De certa forma tais situações modelaram a sagrada trinhdade do universo das Crônicas Vampirescas – e por extensão elevaram o gênero literário Vamp a um novo patamar de personagens densos psicológicamente e além de qualquer dicotomia de bem versus o mal – podíamos ver que havia uma sociedade dos filhos da noite e dos milênios…
Assim temos Lestat, como aquilo que é almejado; Claudie, a jovem idealizada que nunca se tornará uma mulher e viverá para sempre como criança (quase uma boneca) e o atormentado e melancólico Louie, como aquilo que se pode vir-a-ser quando abandonado e destituído de qualquer sentido ou pertencimento.Mas as outras duas partes da trindade ficarão para outros textos – afinal falar de Lestat demanda priorídade e exclusividade. Assim como a nossa admirada Akasha, A Rainha dos Condenados teve um artigo próprio que explorava suas origens e o papel do espírito sanguinário chamado Amel, neste outro artigo.
O personagem de Lestat é o heróico agente catalisador das Crônicas Vampirescas de Anne Rice.Originalmente lançado como uma espécie de antagonista, um vilão aos olhos de seu jovem pupílo Louis. Mas a intensidade, a imprudência, o deboche e o magnetismo de Lestat, logo o transformou no propulsor da história.Como boa parte da saga é narrada de sua perspectiva o vemos exaltar aquilo que tem de melhor e nos levar de mãos dadas através de suas aventuras nas extensas págias com a delicada e luxuriante forma de escrever de Anne Rice.O tom mais charmoso de Lestat é que ele deseja fazer o que lhe despeta “bem”, o justo e o belo (as implacáveis leis da estética) mas constantemente o seu cumprimento vem a sabotar a sí de alguma forma – ou seja muitas vezes esperamos esperamos por uma inerente auto-sabotagem dos seus próprios planos – e a certeza de que sobreviverá a isto tudo e avançará ainda mais- vide o caso do que virá a acontecer com Louie ou ainda com Claudie – inicialmente apresentado no livro e no filme “Entrevista com o Vampiro”; mas também lembre-se do violinista “Nicky” e de Gabrielle, suas progênies anteriores mostradas posteriormente em “Vampiro Lestat” – nunca vistos nos filmes, apenas no musical da Broadway que adaptou o segundo livro das crônicas, onde Lestat já era o personagem principal.Onde também veremos sua conturbada relação com o Vampiro Armand – que o filme de Neil Jordan nem se arriscou a tocar para não comprometer a fluidez da sua trama.
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O VAMPIRO LESTAT:
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O melhor momento de Lestat em toda vastidão das Crônicas Vampirescas sem dúvida é no segundo livro que carrega o seu nome. Em suas páginas assistimos o despertar de Lestat em pleno anos oitenta do século XX, o primeiro capítulo é nomeado como”Dionisio em Nova Iorque” o que anuncia a jornada de vinho, palcos, bastidores, êxtase e paixão a se desenrolar em ritmo frenético – o que virá a despertar a Rainha dos Condenados no próximo livro e re-escrever todas as relações de poder dos filhos da noite neste universo ficcional. Nesta obra Lestat desperta depois de um extenso período de sono, descobre que Louie contou toda sua versão melíndrada e recalcada num dos livros mais vendidos de todos os tempos – e para o mundo os vampiros são apenas um mal simbólico, uma fantasia e algo mítico por assim dizermos.Como os imortais são nada mais do que uma fonte de emoções e passam despercebidos com tudo aquilo que fazem – suas vítimas são creditadas a serial killers, bandidos e outros criminosos. Então Lestat decide utilizar sua fortuna para se tornar um rockstar e um herói transmídiatico, contando em suas músicas, videoclipes e no seu livro (escrito em resposta ao de Louie) todos os segredos dos vampiros através do mundo.Ação vigorosa que desencadeará uma maré de reviravoltas e confrontos velados sob a égide do mistério e dos séculos.
“Isto lembra Lestat de seus primeiros passeios no pequeno palco do teatro parisiense de sua juventude mortal, bem como seu retorno mais tarde a esse palco já como o vampiro Lestat, período em que ele assustou infernalmente sua audiência com o espectro não-natural de sua voz vampírica. “
Pensa um vampiro com o desejo de ser reconhecido por ser um vampiro e pela sua personalidade marcante e irresistível.Novamente a sede de cumprir suas implacáveis leis da estética no que ele considera o maior de todos os espetáculos da terra – pelo menos desde o malfadado Teatro dos Vampiros, criado por ele mesmo em París, dois séculos atrás – mas agora um “Grand Guignol” de alcance global. Mas no âmbito pessoal ele não se importa se o público crê ou não que ele seja aquilo que anuncia, sendo irrelevante para sí – ele apenas quer aplausos, glória e anunciar que ele é o “mal mítico” e com sua arte apenas quer forçar o mundo a reconhecer aquilo que vem-a-ser. Note que o “mal mítico” de Lestat não é o mal dos religiosos, talvez seja algumas vezes uma gradação de uma escala pragmática de valores éticos. Mas sou forçósamente levado a crer – depois de pelo menos quase duas décadas que Lestat vive nos meus pensamentos – que ele nomeie como “mal” o que chamamos nos dias atuais de inconsciente, o temor pelo desconhecido, a ansiedade do que está por vir, a estranheza e a repulsa daquilo que é novo até nos aproximarmos e nos familiarizarmos.Sem dúvida um sabor único de uma influência que vem do pensar pré-moderno que sempre degustamos na tônica deste personagem.Com isso, é desnecessário aponta-lo como ícone do contexto estético e do ethos “Vamp” ao longo da produção cultural, fashionismo e cosmovisão do nosso meio – ao longo das últimas quatro décadas. O Vampiro Lestat nosso procurador eleito através da linha do tempo da cultura ocidental, dotado de um olhar estéta impecável e de uma sede insaciável a lhe guiar em busca do “Sangue”!
” Começando com sua experiência de infância do que ele e “Nicky” vem a chamar do lugar das ‘bruxas’, ‘onde foi contado histórias repugnantes de bruxas sendo queimadas por seus pecados contra a igreja.”
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A RAINHA DOS CONDENADOS:
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A Rainha dos Condenados é a sequência dos acontecimentos iniciados no livro “O Vampiro Lestat” (Você pode ler mais sobre a Rainha e as origens dos vampiros no universo de Anne Rice, aqui). O filme com Stuart Townsend como Lestat embora seja legal enquanto boa história de vampiros, é frustrante para os leitores das décadas anteriores. Na história assistimos o despertar da “Deusa” criadora de todos os vampiros da Terra, o mal encarnado no sentido mítico mais apropriado. A face devoradora e indiferente da mãe terra, que a tudo que deu vida, devora e despersonaliza no final do ciclo. Claro, Lestat não a verá de tal forma e a forma que ele escolhe se aproximar não como temente e sim como um amante é uma metafórica ode ao desenvolvimento espiritual de todo integrante da Cosmovisão Vampyrica – um dia esta sentença ganhará um artigo mais detalhado sobre a vastidão mítica implícita em se aproximar da natureza não mais como filho e sim como um amante.
No romance a vampira Akasha é retratada como indiferente, insensível e gélida – inegavelmente bela e deslumbrante -seu objetivo é claramente tornar o mundo temente a ela como a grande deusa regente. Lestat vivenciará o dilema de poder matar inconsequentemente para aplacar sua própria sede pelo sangue e viver totalidade da sua própria crueldade, que seria o ápice da sua natureza enquanto vampiro.A lição que veremos Lestat tirar de tudo isso é a compreensão dos ciclos da vida e da morte.Se todos imortais viverem conforme ordena Akasha todo o rebanho mortal e a vida animal, fonte do sangue que sustenta os vampiros, serão dizimados em algum tempo e os vampiros irão perecer por falta de alimento – pois guardada a devida proporção de tempo, tudo acabará logo. Tal compreensão velada levará os personagens a se voltarem contra Akasha e fazerem o “bom”, o justo e o belo pela preservação do coletivo. Fato que atormentará os filhos da noite nos próximos livros e principalmente Lestat que guardará o luto pela morte de Akasha – e talvez por ser o único a compreender o esplendor que ela representava enquanto a face noturna, deslumbrante, devoradora e indiferente da própria terra – um espelho de sí.
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A HISTÓRIA DO LADRÃO DE CORPOS:
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No livro “A História do Ladrão de Corpos” vemos o livro mais chato de todos os tempos. Nele temos um Lestat atormentado e transformado pelo sangue de Akasha no semideus dos vampiros.Decepcionado e decidido a dar um basta a sua existência, o vampiro encontrará o curioso mortal Raglan James (O ladrão de Corpos), como um Mefistófoles moderno oferecerá ao vampiro a possibilidade de trocarem de corpos por um dia e uma noite. Para Lestat a mortalidade assumiu tons de uma inocência divina, uma espécie de bússola ética definida pelo temporal, pela finitude e o circunstancial – algo perdido para os vampiros em sua imortalidade e amoralidade, que não possuem mais um sequenciamento ou uma espécie de ordem natural orgânica para seguirem – exceto caçarem pelo sangue. Talvez como muitos arquétipos ou idéias no sentido platônico nos encontram por afinidade e buscam nosso sangue, nossa carne e o “Sangue” para existirem – este tema é melhor explorado nos artigos do “Blog Cosmovisão Vampyrica“.
Enfim, Lestat trocará de corpo com Raglan e pagará por quase todos os seus pecados na carne com todas as suas dores, fragilidades e sendo quase morto pelo Vampiro Louie – enfim, algo muito caro para um dia único de sol. A mortalidade humana não é a definição do bem como veremos representada no personagem Raglam James, sua mentalidade corrosiva e compulsiva o fazem viver como um parasita do pior tipo – rouba corpos espera por seu enfraquecimento e parte para um novo hospedeiro por mero capricho. Na trama também encontraremos David Talbot, o líder da organização secreta “Talamasca” que ganhará importante papel nos livros que virão depois. Na “História do Ladrão de Corpos” o Vampiro Lestat aprende que só pode fazer o bom, o justo e o belo por ser o “mal” que gera o bem nos seres humanos, quando estes se deparam com sua face natural de caçador noturno.Um papel diabólico, o afrontador, o acusador e o agente de mudanças quase sempre ímpune mas com o poder de um semi-deus.O que lhe arremeterá a esfera do sagrado no livro posterior.
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MEMNOCH, O DEMÔNIO:
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A quinta aventura de Lestat o leva a encontrar a fatídica resposta da condição humana: Deus existe?Se ele existe, bem será que o demônio existe? O que é o mal mítico, ou melhor o bem e o mal são as duas faces da mesma moeda – e será que somos realmente da mesma substância? Acompanharemos Memnoch, o próprio demônio conduzir Lestat através da história da raça humana e também através do céu e do próprio inferno – desejoso de que Lestat venha a se tornar seu assistente no processo de purificação das almas. Deus, um darwinista cruel que apenas se interessa pelos perfeitos que o espelhem a sua imagem e semelhança para que apenas estes adentrem no paraíso – e o demônico como um incansável advogado de que todos humanos merecem tal direito pois todos foram criados a imagem e semelhança do todo poderoso.Creio que este foi o ápice das aventuras do Vampiro Lestat, onde o personagem conclui que os mortais teístas ou ateístas vivem uma confortável ilusão dicotômica – e que neste momento aquilo que vivemos enquanto raça humana naquilo que pensamos sobre a realidade não-ordinária seja devéras parecido com aquilo que nossos ancestrais pensavam sobre a fermentação e as doenças antes da invenção de um microscópio. Será uma jornada extremamente traumática para o vampiro Lestat que o levará a reclusão e um torpor prolongado que o deslocará do papel de protagonista por muitos outros livros das Crônicas Vampirescas – uma fuga para os sonhos para se recuperar do turbilhão de ver o mundo se expandir e se desvelar além do que podia suportar. Como diziam os árabes, até onde se poderá ir quando em posse da verdade?
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MERRICK, FAZENDA BLACKWOOD E CÂNTICOS DE SANGUE:
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São os três últimos livros das “Crônicas Vampirescas” e também marcam o retorno de Lestat e alinhavam a trama dos vampiros a da família Mayfair (da Saga das Bruxas Mayfair). Nosso vampiro de cachos dourados é despertado pela música de Sybelle – assim como ele também despertou Akasha no passado remoto – para auxiliar o vampiro Louie e trazê-lo de volta a vida depois da trágica tentativa de reviver e re-encontrar a vampira Claudie para pedir por seu perdão, mas ao contrário do que esperava ser humilhado e amaldiçoado. Descobrindo que o pós-vida de um vampiro pode realmente ser muito pior do que a morte – ou a condição de morto-vivo.
Novamente desperto, agora na primeira década do século XXI (vale lembrar que nos livros as aventuras do segundo e do terceiro livro das crônicas se passam no começo dos anos oitenta, algo bem diferente do filme Rainha dos Condenados – e a derradeira aventura com Menoch seria um momento do começo da década de noventa).A Fazenda Blackwood se inicia com Lestat confessando aos leitores seu desejo de fazer o bem e vir a se tornar um santo – se tornar o oposto daquilo que é capaz de perceber em sí enquanto um vampiro voraz e ávido por sangue – cheio de sede pela vida. Sem dúvida aqui o “mal” reassume o tom que comentamos daquilo que pertence ao não-modelado e o pulsional de cada um. O ato máximo de Fazenda Blackwood e Cânticos de Sangue envolve o altruísmo de Lestat em desistir de sua amada e desejada Rowan Mayfair, para que ela permaneça com o marido (imagino o quanto ela lhe recordasse de Gabrielle Lioncourt, quem é leitor de Anne Rice entenderá esta sentença apropriadamente). Cânticos de Sangue carrega o tom confessional de Lestat para com seus leitores, afirmando que aquilo que nomeou como “O Bem” é a compaixão humana, aquilo que santifica e torna alguém eleito da realidade não-ordinária. Não somos governados por nenhum mal que venhamos a acreditar ou sermos ensinados, todos somos e continuamos abençoados, apenas aprendendo a limparmos as máculas da culpa e de pesares… É um final realmente melancólico – e menos épico do que muitos de nós esperavam. Encerro o artigo com as palavras de Lestat:
“And then my heart cries out, my heart will not be still, my heart will not give up, my heart will not give in-the blood that teaches life will not teach lies, and love becomes again my reprimand, my goad, my song.”
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