Santa Clarita Diet: Canibalismo diretamente do Leste Europeu

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Santa Clarita Diet: Canibalismo diretamente do Leste Europeu

A primeira temporada do seriado SANTA CLARITA DIET (Netflix,2016) trouxe as epidemias de mortos vivos canibais sérvios, para o subúrbio de Los Angeles. Inteligente e hilariante oferece um bom contraponto ao contexto de zumbis carniceiros da cultura pop.O tom bem- humorado dos protagonistas Sheila e Joel, interpretados por Drew Barrymore e Timothy Olyphant, retrata dois corretores de imóveis, casados e entediados com a rotina, até que a jovem se transforma de forma misteriosa em uma morta viva canibal. Resumidamente é isso. A partir daí ela e o marido, assim como a filha e seu melhor amigo nerd terão que lidar com a nova dieta da mamãe em situações hilárias de morte, destruição, companheirismo e lealdade passional.

As evidentes vantagens da nova condição de Sheila é sentir-se a cada dia mais linda, disposta e poderosa – apesar de seu corpo estar se decompondo discretamente. Isso sem falar no apetite insaciável por carne humana. Aparentemente o contágio se dá por mordida ou arranhão (mas não fica muito claro), depois o infectado vomita muito, até expelir o próprio coração. Agora como um cadáver ambulante passa a “viver” destemidamente e até selvagemente tudo que temia socialmente quando apenas “vivo”. Há um livro antigo que explora uma explora uma praga semelhante num vilarejo Sérvio do século XVI e fornece pistas do que está por vir, mas que saberemos apenas na próxima temporada. Em Santa Clarita Diet o “prato principal” não é o derramamento de sangue e a violência e sim o bom humor (negro!) com que os personagens lidam com tudo isso!

Assistimos a primeira temporada e nos divertimos aqui na Vamp Tower, nota 10 para a campanha publicitária brasileira (usando o brega e o tom açucarado com a visceralidade do seriado) que reproduzimos no início do artigo!!!

ANTROPOFAGIA, CANIBALISMO E O LESTE EUROPEU

Quando falamos do leste europeu acabamos sempre pensando no bom e velho mito do chamado “Eurocentrismo”, por mais que o interior da Hungria ou da Romênia (e outros países de lá) gozem deste verniz europeu seu imaginário ainda é essencialmente prosaico e tribal. Calma, ao pontuar isso não desejo de nenhuma maneira denegrir tal povo e tampouco países que sou profundo admirador dos costumes, ancestralidade e espiritualidade. Este artigo não pretende ser nenhum tipo de caçador de “likes” sensacionalista, vamos apenas focalizar um pouco de história, do imaginário e da cultura pop.

No passado distante a região foi o lar de povos guerreiros como os Sármatas e os Dácios, quando o império Romano deixou aquelas terras o povo latino que habitava a região fugiu para as montanhas e se misturou com eles, dando origem a incontáveis sincretismos e ritos peculiares. A própria história do Voivode Vlad da Casa Bessarabi (ou Vlad Tepes que inspirou o célebre personagem de Bram Stocker) imortalizou e ainda globalizou seu folclore e deixou nuances da sua espiritualidade que tocam o coração dos indomáveis.

Ainda hoje naquelas terras há um temor generalizado que envolve o retorno do morto (principalmente em casos de mortes violentas, súbitas e de pessoas sem batismo religioso) como um espírito vingativo, buscando sufocar o espírito da comunidade. Desde 1800 tais histerias com mortos vivos despontam nos jornais de uma forma mais ou menos homogênea, assim como as profanações de túmulos para erradicarem o tal “vampiro” ou “morto vivo” são frequentes no interior destes países. Amputações e decapitações de membros de um defunto são comuns e o uso das famigeradas estacas marteladas no seu peito também não surpreendem. Tudo isso acompanhado de incursões clandestinas e penalizadas por lei aos cemitérios dos vilarejos na calada da noite.

“Menos conhecida é a misteriosa receita utilizada por estes caçadores de mortos-vivos eslavos que envolve cozinhar e consumir partes do morto, diluídas em água (ou outras substâncias) – sendo que em alguns casos até mesmo o sangue do cadáver é preparado desta maneira adicionado a certas ervas e outras correspondências do espelho celeste para perpetuar tais fins.”

Menos conhecida é a misteriosa receita utilizada por estes caçadores de mortos-vivos eslavos que envolve cozinhar e consumir partes do morto, diluídas em água (ou outras substâncias) – sendo que em alguns casos até mesmo o sangue do cadáver é preparado desta maneira adicionado a certas ervas e outras correspondências do espelho celeste para perpetuar tais fins. Os leitores e leitoras mais hábeis prontamente verão aí casos de canibalismo ritualístico. No meu papel de historiador e pesquisador independente noto em casos assim raízes que remetem aos antigos povos pré-cristãos de lá. Devorar um coração ou outras partes do corpo para assimilar dons e poderes dos mortos não era algo verdadeiramente incomum naquelas bandas – e nem em outras partes do mundo.

Falando de antropofagia ritualizada (ingerir carne humana como parte de um rito espiritual ou religioso) temos algo sancionado e prescrito, moralmente aceito e passado de geração para geração. Temos então casos de endocanibalismo e exocanibalismo. No primeiro o consumo de carne humana vem de um parente ou membro do mesmo grupo, tribo ou sociedade de quem o consome. É uma expressão de adoração aos mortos que busca consumir e reter um dom ou aspecto esotérico dele para o grupo. Já o exocanibalismo é realizado com a função de aterrorizar o inimigo e roubar a força vital de alguém. Ambos os casos implicam em uma forma de comunhão com um poder além das normas e diretrizes do estado. Coragem, juventude, riqueza, virilidade e poder  – são as forças que estão por detrás destas práticas ao redor do mundo. Não faltam relatos de tribos e impérios que obtinham os ingredientes e fundamentos de suas fórmulas ou poções religiosas; através deste meio para assegurar a sua soberania perante outros e as bênçãos dos seus deuses. Teria surgido da necessidade e posteriormente foi adornado com um pensamento metafísico? Seria um processo para lidar com o luto de tempos antigos? Eis aí uma reflexão delicada.

E para concluirmos tal artigo será que são casos de endocanibalismo ou exocanibalismo que ocorrem com os defuntos acusados de vampirismo ainda hoje no Leste Europeu?

*Não preciso dizer que Canibalismo isso se caracteriza como um crime verdadeiramente hediondo em nosso continente. Também é desnecessário dizer que canibalismo NÃO integra o contexto Vampyrico nem em tons de Cosmovisão ou de Fashionismo.

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