Sangue, Fobia & Simbologia
[dropcap ]N[/dropcap]as publicações da RedeVamp expressamos nossa simpatia a multidisciplinaridade e a produção acadêmica sobre conhecimento relacionado as áreas que apreciamos seja na vertente fashionista ou na da Cosmovisão.Uma vez mais temos o prazer de contarmos com a participação do psicólogo Fabio Barasino e seus elegantes e bem versados artigos, desvelando boas influências para nossas pesquisas e certamente novas encruzilhadas para explorarmos em busca de consciência e aprendizado!Boa Leitura!
Segundo a definição médica o sangue é um protótipo líquido que circula pelo sistema vascular em animais com sistemas circulatórios fechados e que, independentemente de sua composição, se regenera; formado por uma porção celular de natureza diversificada que circula em suspensão em meio fluido, o plasma. O sangue tem como função a manutenção da vida do organismo no que tange o transporte de nutrientes, excretas, oxigênio e gás carbônico, hormônios, anticorpos e demais substâncias ou corpúsculos cujos transportes se façam essenciais entre os mais diversos e mesmo remotos tecidos e órgãos do organismo.
O sangue também é responsável, por assim dizer, por uma das mais interessantes e peculiares patologias dentro do grupo de fobias. Mas o que vem a ser uma fobia. Primeiramente a palavra fobia vem do grego ????? “medo”, deriva de Fobos (deus grego do medo) e é irmão gêmeo de Deimos (deus grego do pânico) ambos sendo filhos de Ares (deus grego da guerra) e Afrodite (deusa grega do amor), que segundo a mitologia grego os irmãos Fobos e Deimos acompanhavam o pai nos campos de batalha lançando o medo e o pânico nos corações dos guerreiros. Este é o medo patológico, focalizado em objetos ou situações que podem ser consideradas inofensivas por outras pessoas e que persiste mesmo depois que o indivíduo se dá conta da irracionalidade de seu medo.
Desde 1970 as fobias foram classificadas em três tipos: agorafobia, fobia social e fobias específicas. Dentro das fobias específicas encontramos cinco subtipos de fobia específica: tipo animal, tipo ambiente natural, tipo sangue-injeção-ferimentos, tipo situacional e outros tipos. Para maiores detalhes sobre cada tipo segue alguns detalhes segundo o que se pode encontrar no DSM-IV:
– Animais: aves, insetos, cobras, gatos, cachorros, etc;
– Sangue, injeção e ferimentos: algum desconforto frente à visão de sangue e ferimentos é inerente à espécie humana, mas a níveis fóbicos o prejuízo pode ser importante, tais como evitar engravidar por temer o procedimento do parto. Frente ao estímulo fóbico, o paciente pode vir a perder a consciência, o que é importante nos procedimentos de enfrentamento;
– Situacional: situações específicas tais como dirigir, elevadores, permanecer em lugares fechados, pontes, transportes públicos, avião;
– Ambiente natural: altura, tempestade, água;
– Outros: fobia de espaço, onde o paciente tem medo de cair se estiver afastado da parede; fobia de deglutição, o paciente tem medo de engasgar, vomitar.
Conforme o DSM-IV, na fobia do tipo sangue-injeção e ferimentos, a sensação de medo é desencadeada pela visão do sangue, ferimentos ou por receber uma injeção ou outro procedimento clínico invasivo. Os principais estímulos associados a este tipo de quadro fóbico são hospitais, cirurgias, ferimentos abertos, injeções, sangue, cheiro característico de hospitais, dor e profissionais de saúde, principalmente os que usam branco. Esta fobia pode ter efeitos prejudiciais sobre a saúde física ou dentária, uma vez que o indivíduo se esquiva de procurar os cuidados necessários para preservação da saúde. Este tipo de fobia possui uma resposta fisiológica diferente das outras fobias específicas em que o coração se acelera e a pressão arterial se eleva. Ocorre uma breve aceleração inicial no ritmo cardíaco, seguida de uma desaceleração e queda da pressão arterial, ocorrendo dessa forma uma queda do tônus muscular que pode levar a pessoa ao desmaio.
A fobia do tipo sangue-injeção e ferimentos têm um risco familiar particularmente alto. Os estudos relatam que de 60 a 75% das pessoas afetadas tem pelo menos um parente em primeiro grau com uma fobia específica do mesmo tipo.
Quem sofre de fobia, ao se deparar (ou às vezes simplesmente imaginar) com as situações que desencadeiam suas crises, sente um enorme medo, em geral acompanhados de pelo menos quatro dos seguintes sintomas (físicos e/ou psicológicos): Falta de ar, palpitações, inquietação, dor ou desconforto no peito, sensação de sufocamento ou afogamento, tontura ou vertigem, irritabilidade, insegurança, sensação de falta de realidade, dificuldade de se concentrar, formigamento, insônia, ondas de calor ou de frio, sudorese, sensação de estranheza em relação a si mesmo ou ao ambiente, sensação de desmaio, tremores ou sacudidelas, medo de morrer ou de enlouquecer ou de perder o controle.
Segundo o DSM-IV aproximadamente 75% das pessoas com fobias do tipo sangue-injeção e ferimentos apresentam uma história de desmaios na presença de estímulos fóbicos, como ver sangue, receber injeção, etc.
Existe uma hipótese bastante defendida pelos pesquisadores e clínicos de que seria a existência de uma vulnerabilidade a uma resposta de desfalecimento vasovagal que interage com estressores psicossociais. O
indivíduo poderia herdar uma forte resposta vasovagal à visão de sangue e ferimentos, porém esta vulnerabilidade não seria por si só suficiente para gerar o quadro fóbico, a pessoa deve sentir que a situação está fora de controle e sentir-se ansiosa com relação à sua recorrência, para a fobia se desenvolver.
A prevalência das fobias tipo sangue-injeção e ferimentos varia de 3 a 4,5% na população geral. As mulheres são mais afetadas do que os homens, sendo que no DSM-IV, encontra-se uma estimativa de que aproximadamente 55-70% dos indivíduos com o tipo de fobia específica de sangue-injeção e ferimentos sejam mulheres. A idade de pico para o início da fobia do tipo sangue-injeção e ferimentos está na faixa dos 5 aos 9 anos, porém não se sabe ainda o porquê a ocorrência nessa faixa etária.
Os mecanismos de aquisição das fobias ainda são foco de discussão e existem evidências de que alguns medos sejam adquiridos por condicionamento ou outras formas de aprendizado, enquanto outros surgem de forma espontânea ou não associativa. A forma não associativa de aquisição de medos tem sido considerada como indicação de que certas fobias teriam uma origem inata e estariam ligadas a situações ou estímulos considerados aversivos em termos evolutivos. As fobias específicas tendem a ter incidência familiar, sendo que a tipo sangue-injeção-ferimentos tem uma tendência familiar particularmente alta e propensa a afetar muitos membros e gerações de uma família. Parentes em primeiro grau dos indivíduos com fobia social estão cerca de três vezes mais propensos a serem afetados com fobia social do que os parentes em primeiro grau de indivíduos sem transtornos mentais.
O tratamento para fobias poderá ser farmacológico e/ou cognitivo-comportamental ou farmacológico e/ou psicodinâmico:
Tratamento comportamental – Baseia-se na exposição controlada e progressiva ao objeto fóbico. Neste caso através de técnicas de relaxamento e controle da ansiedade procura-se dessensibilizar o indivíduo.
Tratamento cognitivo – Visa reestruturar os pensamentos ditos anómalos. Este objetivo é conseguido também através da aquisição de informação sobre o objeto ou a situação fóbica.
Tratamento psicodinâmico – Busca o entendimento e elaboração do(s) significados simbólicos da doença e dos sintomas desenvolvidos, bem como, a elucidação dos ganhos secundários desses.
Atualmente para as fobias específicas o tratamento mais eficaz é a terapia comportamental. Devido a uma resposta fisiológica atípica do tipo de fobia de sangue-injeção-ferimentos, ou seja, diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial, algumas técnicas foram incorporadas no tratamento padrão das fobias específicas.
A fobia de sangue-injeção e ferimentos é uma condição que ainda está sendo estudada e existe pouco material divulgado e ainda muitas hipóteses a serem estudadas.
Tratamento comportamental – Baseia-se na exposição controlada e progressiva ao objeto fóbico. Neste caso através de técnicas de relaxamento e controle da ansiedade procura-se dessensibilizar o indivíduo.
Tratamento cognitivo – Visa reestruturar os pensamentos ditos anómalos. Este objetivo é conseguido também através da aquisição de informação sobre o objeto ou a situação fóbica.
Tratamento psicodinâmico – Busca o entendimento e elaboração do(s) significados simbólicos da doença e dos sintomas desenvolvidos, bem como, a elucidação dos ganhos secundários desses. Atualmente para as fobias específicas o tratamento mais eficaz é a terapia comportamental. Devido a uma resposta fisiológica atípica do tipo de fobia de sangue-injeção-ferimentos, ou seja, diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial, algumas técnicas foram incorporadas no tratamento padrão das fobias específicas. A fobia de sangue-injeção e ferimentos é uma condição que ainda está sendo estudada e existe pouco material divulgado e ainda muitas hipóteses a serem estudadas.
As pessoas que possuem a fobia de sangue-injeção e ferimentos não tem medo apenas de sangue, injeções e ferimentos, mas também de uma série de outras coisas que possam fazer-lhes lembrar disso. Um exemplo disso, mostra que aprendemos desde pequenos que quando nos machucamos precisamos ir ao hospital e lá existem médicos e enfermeirasque sempre se vestem de branco e tratam dos feridos. Uma pessoa com a fobia de sangue-injeção e ferimentos irá associar hospitais e pessoas de branco ao seu estímulo original e evitará contato com os mesmos a todo custo, o que poderá prejudicar sua saúde, pois provavelmente não irá num hospital mesmo que esteja ferido ou doente. Este condicionamento pode ser realizado por pessoas da família ou aprendido em escolas, pela mídia ou até pela cultural de seu país e cidade, e esse condicionamento levará a associação que levará a evitação.
Outra coisa que deve ser levado em consideração é o que o sangue significa para uma pessoa com este tipo de fobia. O sangue, numa visão psicodinâmica, é universalmente considerado como o veículo da vida, e por certos povos, o veículo da alma. Chevalier e Gheerbrant (1989) explicam que o sangue simboliza todos os valores associados com o fogo, o calor e a vida que tenham relação com o sol e a esses valores associam-se tudo ao que é belo, generoso e elevado. O sangue também participa da simbologia geral do vermelho.
Na bíblia se diz que “o sangue é a vida” e também que o sangue, misturado à água, da chaga de Cristo, recolhido no graal, é a bebida da imortalidade.
O valor simbólico do sangue já data de muitos séculos atrás e é representado até hoje em filmes, histórias e até mesmo por pessoas que levaram essa simbologia tão a sério que chegaram a fazer coisas, sejam elas boas ou ruins, aceitando o simbólico como real. A condessa Erzsébet Báthory bebia e se banhava no sangue de jovens, pois acreditava que fazendo isso conseguiria a juventude e beleza eternas, na época entre 1560 a 1614. Entretanto no caso da condessa não se pode confirmar com certeza de que ela realizava tal ato, uma vez que não se possuem provas disso. Para quem interessar o filme “Condessa de Sangue” conta a história da condessa de um ângulo científico, por exemplo, o suposto sangue no qual ela se banhava nada mais era do que algumas ervas que ela usava em sua banheira e que deixava a água vermelha.
Todo esse simbolismo do sangue pode atuar de diversas maneiras no imaginário de uma pessoa com a fobia de sangue. A pessoa com esta condição fóbica pode fantasiar sobre estar perdendo sua força vital quando o sangue é retirado de seu corpo. A injeção, no caso a agulha, nada mais é do que um instrumento invasivo ao corpo humano que, na fantasia de um indivíduo, pode ser algo profano, pois além de estar invadindo seu corpo ainda está retirando o líquido de sua vida.
Pelos dados simbólicos pesquisados percebe-se que além das condições fisiológicas, é importante também pesquisar e considerar as condições psicológicas de um indivíduo com esta fobia, pois o medo pode também estar associado com fantasias simbólicas sobre o sangue e seus significados a este indivíduo.A importância do caráter simbólico do sangue e seus significados para o indivíduo nesta condição fóbica devem ser melhor compreendidos para poderem serem desenvolvidas melhores formas de tratamento, pois até hoje utilizamos esse caráter simbólico em nossas vidas e devemos averiguar o impacto que isto pode causar na mente de uma pessoa com este tipo de fobia.
A fobia específica de sangue-injeção e ferimentos é uma condição clínica pouco estudada, tanto em relação à suas ocorrências quando suas formas de tratamento. O caráter hereditário, a presença de anormalidades autonômicas e a forma não condicionada de aquisição sugerem que esta fobia específica seja um subtipo peculiar de transtorno ansioso.
Fabio Barrera Barasino – Psicólogo
Referências
ASSOCIAÇÃO PSIQUIÁTRICA AMERICANA. DSM-IV: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4° ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
BARROS NETO, T.P. Sem Medo de Ter Medo. “Um Guia Prático para Ajudar Pessoas com Pânico, Fobias, Obsessões, Compulsões e Estresse”. Casa do Psicólogo, 2000.
CURTIS, G.C.; EATON, W.W.; KESSLER, R.C.; MAGEE, W.J.; WITTCHEN, H.U. Specific Fears and Phobias. Epidemiology and Classification. Br J Psychiatry 173: p. 212-217, 1998.
CHEVALIER, J.; GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos: Mitos, Sonhos, Costumes, Gestos, Formas, Figuras, Cores e Números. José Olympio Editora. 2° edição. Rio de Janeiro, 1989.
D’EL REY, G.J.F.; MONTIEL, J.M. Fobia de Sangue-Injeção e Ferimentos: Revisão Bibliográfica. Arq. Ciênc. Saúde Unipar, 5(2): p. 161-163, 2001.
ASSOCIAÇÃO PSIQUIÁTRICA AMERICANA. DSM-IV: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4° ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
BARROS NETO, T.P. Sem Medo de Ter Medo. “Um Guia Prático para Ajudar Pessoas com Pânico, Fobias, Obsessões, Compulsões e Estresse”. Casa do Psicólogo, 2000.
CURTIS, G.C.; EATON, W.W.; KESSLER, R.C.; MAGEE, W.J.; WITTCHEN, H.U. Specific Fears and Phobias. Epidemiology and Classification. Br J Psychiatry 173: p. 212-217, 1998.
CHEVALIER, J.; GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos: Mitos, Sonhos, Costumes, Gestos, Formas, Figuras, Cores e Números. José Olympio Editora. 2° edição. Rio de Janeiro, 1989.
D’EL REY, G.J.F.; MONTIEL, J.M. Fobia de Sangue-Injeção e Ferimentos: Revisão Bibliográfica. Arq. Ciênc. Saúde Unipar, 5(2): p. 161-163, 2001.
MARKS, I.M. The Classification of Phobic Disorders. Br J Psychiatry 116: p.377-387, 1970.
OST, L.G. Age Onset of Different Phobias. J. Abnorm Psychol 96: p. 223, 1987.
RAMOS, R.T. Fobias Específicas: Classificação Baseada na Fisiopatologia.Rev. Psiq. Clín. 34 (4), p.196-198, 2007.
Deixe um comentário