O diário de Nero Bertoli – parte 2

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O diário de Nero Bertoli – parte 2

26/08/2016

Nada de muito relevante ocorreu nos últimos dias, exceto que eu notei o desaparecimento de minha flauta, pelo visto terei que apelar para a poesia. Não me julgo um grande escritor, mas alguns colegas dizem que sou bom, sendo assim eu arriscarei.

Estou a alguns dias com um bloquei literário, não consigo escrever nada que não seja triste e depressivo. Cada vez que a caneta dança na folha eu deixo minha dor fluir e consigo revivê-la em cada instante torturante, mas não em minha própria pele e sim como um espectador, um observador soturno de mim mesmo. Seria este o auto-julgamento que costumam falar?

Me sinto um tolo cada vez que observo e analiso a minha história. Tantas vezes eu me deixei abater por coisas que poderiam ser facilmente superadas com persistência, tantos tropeços devido minha imprudência, me envergonho de minha última empreitada, é claro, mas ela foi só a cereja no topo do bolo. Tenho um histórico longo de choramingos e desistências fúteis. Agora que provei do sabor amargo porém verdadeiro da vida não posso mais deixar o controle da minha vida para os outros.

Há uma moça na faculdade, uma amiga pra ser sincero. Venho fazendo dela minha musa secretamente, escrevo algumas coisas sobre ela, mas não tenho o intuito de lhe mostrar nunca, na verdade me sinto como um pai pra ela. Dou conselhos amorosos e falo sobre a vida, me sinto mais confortável desta forma, mas confesso que às vezes queria provar de seus lábios.

Chega, estou divagando e não trabalhando. Preciso de uma poesia pra amanhã!

 

 

A página parece manchada com algo vermelho.
Não há data, somente um texto solitário em caneta azul com algumas rasuras ilegíveis.

O que a dor faz?
Ela nos mata;
Nos faz sofrer;
Nos enlouquece;

Mas o que mais a dor faz?
Ela nos amadurece;
Nos ensina;
Nos lápida;

O que é a dor?
É veneno que mata o amor;
É remédio que cura a estupidez;
É droga que vicia o louco.

Mas afinal, que droga não é veneno ou remédio dependendo de sua dosagem?
Em nosso mundo nada é gratuito, pagamos com dinheiro, suor ou lágrimas;
Compramos sustento, conforto ou prazer.

A dor me transformou e hoje vendo minha alma;
Sou o menestrel da desgraça;
Me embriago de vinho e escrevo com o sangue de minhas feridas aquilo que quero esquecer.

 

 

 

 

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