Notas sobre Crepúsculo e Lua Nova

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Notas sobre Crepúsculo e Lua Nova

Notas sobre Crepúsculo e Lua Nova:
por Lord A:.

Sabe, andei a ler os quatro livros da série e assistí os dois longa metragens e penso que estamos a frente de mais um universo ficcional vampírico como muitos outros.Apenas porque ele está em evidência mais do que outros, não significa a extinção dos outros universos ficcionais vampirescos e nem a decadência do mito e tampouco do gênero literário ou da Subcultura.

Sou um Vampyro que cresceu na década de noventa saboreando as páginas de Anne Rice e assistindo coisas como Maldição Eterna, Fome de Viver e Drácula de Bran Stocker.Logo, sou de uma geração passada e meu paladar vampiresco demanda têmperos fortes, sabores mais intensos, sexualizados e um apêlo mais selvagem.Aprecio romances, principalmente vampirescos e bom, confesso ao leitor que a série de Stephane Meyer não me agradou dentro destes elementos que expresso aqui.

Isso significa que devo “detonar” a produção cultural de Stephane Meyer?

Claro que não.Aliás, considero fascinante esta nova febre vampiresca despertada por ela.Todo mundo que pegou a década de noventa e um pouco da década de oitenta, sabe que ciclicamente temos febres vampirescas na produção cultural.

Em geral, um determinado universo ficcional desponta nestes períodos e influência toda produção daquele período.No entanto, embora o universo em questão ganhe todos os “holofótes” – isso não significa a supressão ou extinção dos outros universos ficcionais do gênero vampiresco. Claro, sempre haverá gente aproveitando a febre para cravar estacas ou fazer declarações deslumbradas sobre o vampiro da vez.Mas enfim, eles fazem por merecer a luz do sol ou as pétalas de rosa.

Como já disse em algumas palestras para as quais fui convidado: Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer colocaram o vampiresco novamente nas pautas jornalísticas e inspiram sonhos, suspiros e idéias para uma nova geração de leitores – assim como também para leitores veteranos.Esta abertura de mercado e de possibilidades, permite que novos escritores e escritores antigos possam mostrarem novos e velhos trabalhos para as editoras e preenche o mercado editorial e cultural com novas visões e obras sobre o vampiresco; além de despertar atração e novas possibilidades de mercado para os apreciadores e fãs.Isso não tem segredo algum.

Milhões ou milhares de pessoas passam a terem um “portão” para um primeiro contato ou retornarem a leitura de obras vampirescas durante estas febres cíclicas que se abatem sobre todos nós.É factual que uma grande maioria apenas consumirá Stephane Meyer e depois largará o gênero em busca de uma nova febre – como encontros com alienígenas existencialistas por exemplo.

No entanto, nos milhões ou milhares de leitores de Meyer, um número razoável irá sentir “sêde de mais”…E acabará descobrindo outros autores, outros universos e desenvolverá vínculos mais sólidos com a literatura vampiresca e também com o mito, com o folclore e com a Subcultura que está por aí.Quando mais este ciclo da febre passar, novas pessoas estarão por aí em nossa cena cultural – o que é estruturarante e renova a mesma.Até aí nenhum segredo.

Da minha parte, com Crepúsculo ou sem Crepúsculo, eu continuarei por aí mantendo sites sobre o gênero Vampyrico, vampiresco e gótico.Muitos escritores da cena nacional já existiam bem antes disso e continuarão por aí também a lançarem novas obras para encantarem e envolverem nossos sentidos.

Um engano muito comum, cometido pela maior parte das pessoas é tentarem engavetarem todos vampiros sob um mesmo gavetão do amplo armário que é o gênero.A coisa não funciona assim, cada universo ficcional é um universo ficcional com sua própria identidade, peculiaridades, características e afins.Então, nunca teremos um “tipo” ou uma “receita” vampiresca perfeita.No máximo temos algo que agrada subjetivamente a cada um de nós.Penso que um bom romance vampiresco na ficção seja ele um livro, um filme, uma música ou um videogame deva ter bem equacionado os elementos romantismo, sexualidade e sangue.

ROMANTISMO, SEXUALIDADE & SANGUE:

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Vampiras

Dos três elementos que citei anteriormente o “romantismo” é indispensável, vampiros não são zumbis e nem mortos-vivos do George Romero.A história não precisa se passar nos tempos vitorianos ou na idade das trevas, no entanto realmente esperamos encontrar vampiros como homens-fatais e vampiras como mulheres-fatais.O teor dessa “fatalidade” pode variar do mais escrachado ao mais reservado.Porém, é uma zona de reconhecimento do gênero que deve ser respeitada pelos autores e artistas.

Quando falo “sexualidade” utilizo o termo no sentido mais amplo e até mesmo “Freudiano” que me é permitido.Não me refiro apenas a consumação do ato sexual. E sim a todo afeto e suas variâncias envolvidos na ambientação e nos personagens.Seja um Vampiro ou uma Vampira, seus dentes compridos estão lá para perfurarem e penetrarem seus alvos e vítimas.A metáfora é óbvia.E como diria o bom Lestat:”Não se envergonhe do que você é! Você é um Vampiro, Louie!”

O terceiro elemento na produção cultural vampiresca é o “sangue”.O mitógrafo norte-americano Joseph Campbell já apontava em sua obra que o grande público tinha dificuldades em compreender o metafórico e a não-literalidade dos símbolos.Quando falo em sangue, não falo do “splatter” e sim de sabor, de aroma, de ambientação, de textura, de espírito e presença na obra – capaz de emocionar e deixar marcas indeléveis em quem assistiu ou apreciou determinada obra.

Com base nestes três conceitos, que para mim fornecem a consistência ideal para uma boa obra da produção cultural vampiresca – o universo de Stephane Meyer estaria automaticamente desequilibrado e sem o tipo de tempêro e sabor que eu aprecio no gênero vampiresco.Penso que os dois longa-metragens (Crepúsculo e Lua Nova) não atingiram o teor que apreciei na leitura dos respectivos livros.Isso significa que apreciei mais os livros do que dos filmes.Mas não significa que tomo os livros como parta da minha estante de favoritos do gênero vampiresco.Como já disse anteriormente, no gênero literário vampiresco, tenho que pagar meu tributo a toda minha “formação” cultural, degustando Christabel e Ryme of Anciet Mariner de Samuel Taylor Coleridge, Polidori, Byron, Shelley, Poe, Anne Rice, Giulia Moon, André Vianco e Poppy Z. Brite;

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Por mais que Stephane Meyer tenha acertado no “mood” de criar uma personagem que reflete o espírito arquetípico de muitas meninas e meninos da atual geração – com um caráter mais observador, reservado e intimista – eu continuo sentindo Geraldine (a vampira de Christabel), Miriam Baylock (interpretada por Catherine DeNevue em Fome de Viver),Claude (de Entrevista com o Vampiro), Carmila (interpretada por Ingrid Pitt), Theda Bara e Lumidora como minha visão do feminino vampiresco.

Em relação ao Edward Cullen (Interpretado pelo Robert Pattison nos filmes), posso entender o lirismo e o romantismo do personagem.Há o despontar de uma beleza lírica, quando na cena que se passa na Câmara dos Volturis, a Bela diz algo sobre a beleza da Alma de Cullen;Mas este despontar é rapidamente afogado ao final de Lua Nova durante o embate entre o vampiro e o Lobisomen – separados da briga por uma argumentação e presença de espírito bastante fraca, pela protagonista Bela.Ainda falando em Cullen, se estou em uma tarde generosa até delineio nele traços bem leves de um personagem “Byroniano”.

Mas confesso que minha visão de vampiro mais “sutíl” é irremediavelmente relacionada a David Bowie no filme Fome de Viver e até mesmo no melancólico vampiro Louie Pont Du Lac interpretado pelo Brad Pitt em Entrevista com o Vampiro.Ainda dentro desta temática o vampiro Akai do curta metragem homônimo produzido em 2006 aqui no Brasil, também atinge este grau ideal de melancolia e selvageria…

Estes três últimos, mesmo expressando sua vulnerabilidade emocional e tormentos com sua “condição” – permanecem mais convergentes com minhas observações e dosagens certas de Romantismo, Sexualidade e Sangue (conforme expliquei neste texto) em uma obra vampiresca.

Sobre o lobisomen Jacob, achei bem interessante a utilização de uma lenda indígena norte-americanda para explicar as origens do personagem e seu conflito com os vampíricos.Não me recordo de outras obras que tenham resgatado tal elemento e isso provavelmente deve-se ao interesse “histórico” da mórmon Stephane Meyer.Afinal os integrantes desta religião norte-americana são conhecidos pelo apreço e respeito para com a história de seu país.Lembrando que em Crepúsculo temos apenas utilizações estéticas e láicas de versões de mitos nativos norte-americanos.Em nenhum instante trata-se de qualquer forma de apologia ou fundamentação secreta de Vampyricos ou Otherkins.

Quando falamos em lobisomens, minha história ficcional favorita vem de uma série de filmes de terror oitentistas com seis episódios chamados “Grito de Horror”.Até hoje nunca mais encontrei estes videos na internet ou em locadoras especializadas.Mas penso que ela soberbamente ilustrou o lado selvagem,  sexualizado, cruel, feroz – e quente – de humanos-lobos-humanos.Outros filmes que modelam minha visão sobre os “peludos” são “Na Companhia dos Lobos”, “Pacto dos Lobos” e o moderninho “Sangue e Chocolate” – que merece um dia desses uma resenha exclusiva por aqui.Mas enfim, Jacob nos seus momentos humanos antes da transformação foi “interessante”.Já os efeitos e a computação gráfica dos lobos, eu penso que deixou a desejar…Destoaria bastante do universo de Crepúsculo umas pitadas apimentadas de “Um Lobisomen Americano em Londres”.

Há noções perenes de romantismo nos personagens Bela e Edward Cullen.Assim como também há no lobisomen Jacob.E o foco dos livros de Stephane foi abordar e priorizar o romance destes personagens em detrimento da sexualidade e do sangue.Isto é bem claro e explicado claramente em toda a estética dos livros e dos filmes.Não deixo de achar irônico tal fato.Geralmente as pessoas queixam-se do excesso de apêlo a sexualidade em filmes vampirescos ou de lobisomens.Quando é apresentado um filme e uma obra, onde o apêlo é ausente ou mínimo…elas queixam-se também.Vivemos em um país estranho, onde moças que usam minisaias, em pleno século XXI são quase linchadas em faculdades.

Tanto Edward quanto Jacob, a priori não podem ter sua noite de amor com Bela.O primeiro é um vampiro e pode ficar excessivamente excitado e mata-la bebendo o sangue dela.Já o segundo pode literalmente virar uma fera e devora-la para valer.Ambos não exitam em tomarem decisões por Bela.O lobo mente no telefone para afastar o vampiro.O vampiro arranca o motor e o fio do telefone da amada para ela não ir atrás do lobo.E a pobre Bela, não tem um projeto de vida mais consistente como fazer uma faculdade ou ter uma carreira profissional – apenas quer casar-se e virar vampira junto do seu amado.Mas enfim, não é um projeto de vida tão ruím, pelo menos na ficção romântica.

Para mim, a personagem mais interessante deste universo ficcional vampiresco Crepuscular foi a vampira Alice Cullen, seu jeito e seu poder de enxergar o futuro dos outros personagens e o dela própria.Creio que Stephane Meyer tenha acertado o tom e o maneirismo de Alice.

aliceNão tenho como negar que a vampira Alice, foi minha inspiração para apreciar toda a obra e curtir o que viria a acontecer na sequência.Desde sua primeira aparição entrando pela janela da residência dos Cullen, foi bastante marcante trazendo refrescância e um sabor mentolado e energia para o texto de Meyer. Afinal haviam momentos em que os trechos do diário de Bela Swam eram tão enfandonhos quanto o do personagem Jhonatan Harker no livro Dracula de Bran Stocker.

Muito bem, eu considero trechos do livro de Stocker um tanto quanto chatos.Assim como acho entediante a primeira metade do livro Menoch de Anne Rice.E falando na Grand Dame dos romances vampirescos, até hoje considero tedioso o livro “A História do Ladrão de Corpos”.Ele parece um “entre-meio” sem fim, escrito apenas para agradar editor e manter o público cativo, até uma história mais relevante das Crônicas Vampirescas.Bom, foi um tanto herético revelar tais impressões – mas sou alguém justo para com o que escrevo e para com quem está aí lendo.

Apenas para finalidades de referência temos o universo ficcional do Drácula de Bran Stocker, das Crônicas Vampirescas de Anne Rice, do vampiro-heróis St.German da Chelsea Quinn, da Marvel e da DC comics, de Vampiro a Máscara do Mark Rein-Hagen, True Blood da Charlane Harris e algumas outras centenas só no exterior.

Aqui mesmo no Brasil temos o universo ficcional vampírico do André Vianco, da Giulia Moon, da Liz Vamp, do Antônio Calmon, do Eugênio Colonesse de Mirza a Vampira, Denise MG, do Adriano Siqueira, Martha Argel, Nelson Magrini, J. Modesto, do Kizzy Ysatis e muitos outros.Em todos eles encontramos elementos de sexualidade, romantismo e sangue – em doses próprias e peculiares de cada um destes autores.

Espero não ter ofendido ou magoado aos fãs de Crepúsculo (e nem das obras que comentei três parágrafos acima) com estas anotações e observações.Pois quem leu o texto, percebe claramente que esta não é a idéia e nem o intento dele.Trata-se de mais uma viagem através do roteiro e da apreciação do que é criado dentro do gênero vampiresco.

Sou alguém que mantêm o mesmo olhar franco e objetivo com outras obras deste segmento.Até mesmo, se a série Crepúsculo for o primeiro contato do leitor com o gênero vampiresco, espero tê-lo inspirado com este artigo para conhecer outros universos vampíricos, suas obras e autores.Afinal, todos aqui gostamos da produção cultural que envolva vampiros, lobisomens e outros terrores noturnos…

Feliz Caçada!

Lord A:.
[autor do site www.vampyrismo.org & apresentador do Vox Vampyrica Podcast]

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peter_christian_anubis1No próximo dia 30 de junho estreia a terceira parte da Saga Twilight “Eclipse”Um dos recém chegados vampiros é nada mais nada menos que o cantor Peter Murphy (a foto que ilustra este post foi postada pelo próprio em seu Facebook! Peter Murphy é ex-vocalista do Bauhaus).A notícia foi confirmada por Billy Burke, um dos atores do filme, à MTV Europa.Sobre o papel de Murphy, Burke disse: “Ele fará um vampiro numa sequência de flashback”.

Não vi nada, mas o diretor e todos os que viram dizem que ele está fantástico. Ele começa como um vampiro espanhol.“O Billy Black está contando a história da evolução dos lobisomens e como eles conheceram os vampiros. É nessa sequência que ele aparece”.

Particularmente, posso dizer que não sou o fã numero um deste filme, mas acho que desta vez, vale a pena conferir, creio que assim como já aconteceu anteriormente no filme The Crow – City of Angels de 1996 em que o tambem cantor Iggy Pop rouba cena, Peter fará com certeza os nostalgicos fãs de Bauhaus “em sua maioria góticos” irem ao cinema e comer uma boa pipoca na manteiga.

De Christian Anubis, publicado em DarkSP

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