Olha, achamos muito mais estranho vivermos neste país onde alguns milhões de pessoas pelo menos uma vez a cada dez dias se fantasiam de jogadores de futebol, vai a estádios, bares ou simplesmente fica na própria casa sozinho ou em bando, onde grita, comemora, lamenta, dança, bebe e se apoiam mutuamente quando seus times perdem ou ganham jogos – esquecendo de tudo mais. São capazes de recitarem de maneira decorada e com afeto as formações inteiras de times de outras décadas e sabem mais da vida dos seus “heróis” (que geralmente nunca conheceram pessoalmente) do que do seus familiares e até mesmo do que sua própria vida. Acham até normal um presidiário ser candidato a presidente… Tudo isso além de estranho ao nosso ver. Você também não acha?
Outra parte realmente vasta da população vive em shows de auditório da fé doando largas somas de dinheiro, dizendo que seu deus é feito a sua imagem e semelhança; não hesitando bancarem atividades que incentivam a discriminação e até mesmo a violência contra outros que crêem, sentem e pensam o mundo diferentemente delas – que muitas vezes são seus próprios vizinhos e até familiares. Isto é realmente bizarro e ainda mais estranho pra gente. O Deus dos cristãos não é só Amor? Será que o desafio prático de todo o cristianismo atual é sobre como falar de Deus para quem veste camiseta dele, compra bugiganga milagrosas dele, fala em nome dele mas não o tem no cerne do seu coração? Muito estranho, não acha?
Há ainda outros milhões que falam e julgam tudo que existe do seu estrito conhecimento e ponto de vista bastante limitado – que ouviram de orelhada na péssima programação da tv aberta – capazes de qualquer coisa para afirmarem sua vontade em nome de alguma coisa efêmera como uma bandeira, uma ideologia, movimento, uma subcultura, um simbolo geométrico e outras formas de se excluir e hostilizar outros. Isso sem mencionarmos o povo que faz das redes sociais seu consultório terapêutico. Tudo isso nos parece bem mais estranho daquilo que somos ou estamos enquanto VAMPS!
Não poderíamos deixar de citar que achamos estranho e desatualizado o sistema educacional falho a que somos expostos desde a infância. Entre pelo menos sete padrões de inteligência só a matemática é aceita como determinante de alguém ser inteligente ou não. Incluímos o lastimável sistema dos vestibulares que obriga pessoas a mais de 14 horas de estudos diário para decorar conteúdos inúteis na vida prática e submeter-se roboticamente a testes de múltiplas escolhas desperdiçando a inteligência de todos participantes que poderia ser empregada para aprender e realizar coisas de verdade. E depois da eventual aprovação leva as pessoas a graus de exaustão e estresse indizíveis que leva a ser rotulada como incapaz para exercer a profissão. Achamos estranho a maioria das pessoas no meio acadêmico, lugar morto que vive de repetir e regogitar conteúdos de outros e pouco se importa em gerar ou estabelecer algo novo ou que possibilite uma mudança real de paradigma nacional – que se importa apenas com políticas internas de aprovação e conquista de cargo. Isso nos parece desleal e realmente estranho.
Também estranhamos o preço descabido do transporte público e o péssimo serviço oferecido em nossa cidade. Um governo que se gaba de fazer copa e olimpíada enquanto todos os serviços básicos como saúde, segurança e educação não tem recursos para operarem nas cidades – mesmo com os impostos exorbitantes que pagamos. Neste momento vivemos uma epidemia (se é que este é o termo correto) de transmissores da Dengue e outras doenças assim como inúmeros casos de bebês nascendo com microcefalia por conta de estranhos pesticidas e agrotóxicos lançados nas lavouras sem controle do nosso governo. Isto é muito mais estranho do que o que somos, daquilo que fazemos e curtimos.
Poderiamos apontar mais umas estranhezas como feminazis, veganos ultra-radicais e “subculturados” – mas daí perderíamos o foco deste artigo e tipos assim nem são do convívio comum da maior parte das pessoas que visitam este portal. Mas daqui de onde estamos tudo isso que falamos neste tópico nos parece “realmente” muito mais estranho do que qualquer coisa.