Entre Lobos e Dragões (Lord A:.)
“O inferno é o lugar escondido – o buraco ou salão dos mortos; sendo os “mortos” as imagens esquecidas de nossas existências passadas, que respondem ao encantamento e ressuscitam na carne do presente. O inferno é a região que os antigos Egípcios chamavam de Amenti – o local do Sol Oculto. A palavra Amen significa “o escondido”, e ta significa “terra” ou “morada”. Amenta ou Amenti é, portanto, o local dos espíritos dos mortos; mortos, isto é, para a mente consciente, mas muito vivos para o subconsciente.”
Kenneth Grant, O Renascer da Magia
Antivida, Sombra, O Vazio no Peito, O Selvagem, Eu-Feral, Espírito Caçador e Coração Feral A vivência prática e a funcionalidade demonstram que o chamado vazio, vácuo, vórtice corresponde a penumbra, escuridão e o desconhecido, região da obra inacabada e dos mistérios que aguardam pela vivência dos mais hábeis. A terra dos mortos ou dos entes feéricos (fadas) e as incontáveis visitas a estes e muitos outros reinos lidam diretamente com isso. Não admira que o senhor do inferno ou dos feéricos, mais especificamente dos “elfos” fosse o mesmo segundo algumas contrações semânticas de certos idiomas das regiões ao norte da Europa. Antivida, Sombra, O Vazio no Peito, O Selvagem, Eu-Feral, Espírito Caçador e Coração Feral – ou como também digo o reino feérico, o reino dos mortos e afins.
Aliás para certos mapas culturais e alguns padrões de consciência, quem rege as belezas do alto e as nefastas profundezas são as mesmas forças apenas em oitavas diferentes segundo a consciência/compreensão do observador. Falando em nas oitavas mais elevadas quanto nas mais baixas confirma-se como incorreto nomeá-las em termos dicotômicos, eles têm suas próprias agendas e metas. Apenas indo além da escuridão, nos descolando da pele, que encontraremos verdadeiramente algo, visto que religiões são para quem teme jornadas assim.
Os segredos e mistérios que verdadeiramente valem são aqueles que dependem inteiramente da vivência e sua memória. Do nosso lado acreditamos que o acúmulo destas caçadas e sua estocagem ampliam o poder de reconhecimento de certas realidades sublimes – evidenciando uma hierarquia de espírito. Flechas solares, “sparks” criativos, luz da consciência, centelha ou fagulha divina que inspiram e se delineiam através dos sonhos são ocorrências comuns e necessárias para se alcançar um estado de “insurreição”. Assim como um caçador a vida espreita e caça por aquilo que tem vida. Tais poderes que permitem cair, deslizar ou quem sabe voar através da matéria negra ao cerrar seus olhos e iniciar a caçada. Aquilo que emana é o que impregna a tez desta força sútil e lhe permite espelhar e ressoar, atrair para si na proporção do que cultiva no seu cotidiano. Lá ninguém se interessa pela sua história ou feitos e sim pelo que exala de ti, reze para que seu coração não o traia.
O dragão descansa na fisiologia do nosso cérebro que em vão os procuramos nas cavernas ou nos céus.
O dragão descansa em nosso cérebro que em vão os procuramos nas cavernas ou nos céus. Peter J. Carroll nas páginas do seu livro “Psiconauta” não hesita em dizer que a evolução nos deixou com três cérebros, ao invés de uma completa reestruturação do cérebro a cada etapa do avanço evolutivo, novos pedaços foram simplesmente acrescentados para cobrir novas funcionalidades. Sendo assim o que torna ou associa alguém como humano é novo e fresco na plástica cerebral. O sábio autor então afirma que em nosso crânio temos um humano (sem muitas utilidades, nos aproxima dos símios no final das contas), um lobo (que nos aproxima de todos os outros mamíferos) e um crocodilo (ou dragão, se preferir) que nos aproxima dos répteis, talvez por isso que toda mitologia que se preza tem seres reptílicos e serpentes antes de deuses e deusas. É o que há de mais antigo, enterrado sob todas as evoluções e modificações posteriores, a base ou fundamento de tudo. Até mesmo por isso que nas tais mitologias os deuses e heróis sempre precisam derrotar os titãs e dragões da consciência mais antiga – mas que eventualmente continuam por lá veladamente desafiando os feitos dos deuses e heróis… chamamos isso de “aquilo que permanece” e que eventualmente ressurge, outros chamam isso de “atavismo” e se não me engano até Kenneth Grant posiciona isso como a fórmula de ressurgimento da “Fera”.
O que associa e remete ao lupino ou os lobos é o estágio do meio e a parada mais comum e frequente das trilhas. Um vasto e rico universo muito popular nos antigos ritos de fertilidade da terra e nas antigas guildas de profissões marginais. Muito disso foi traduzido e estocado pela linguagem humana no folclore ligado aos lobisomens. O lobo é um espírito totêmico poderoso e ancestral, na plástica cerebral equivale ao… e merece respeito e uma análise bem como uma síntese que lhe honre apropriadamente.
Enquanto o lupino carrega um tom amigável ou certo “calor”, compaixão e consciência de bando o dragão apenas premedita como suprir necessidades de caçar, alimentar e reproduzir. O domínio e maestria destas estâncias é o que destaca os hábeis – dos mansos e fracos.
Os graus mais profundos pertencem ao dragão, na plástica cerebral equivale ao sistema límbico (reptiliano) e a simbologia das serpentes. Tanto a correspondência da simbologia “Humana”, quanto a do “lobo” e a do “Dragão” delineiam pontos de vista e da compreensão daquilo que processamos ou estocamos das jornadas além do véu que desenvolvemos. Enquanto o lupino carrega um tom amigável ou certo “calor”, compaixão e consciência de bando o dragão apenas premedita como suprir necessidades de caçar, alimentar e reproduzir. O domínio e maestria destas três estâncias é o que destaca os hábeis – dos mansos e fracos.
Naturalmente isso pode ser estendido ao que atribuímos como parte dos antigos ritos de fertilidade da terra e incontáveis guildas de profissões marginais – que no leste europeu seus nomes foram posteriormente utilizados para nomear tipos de vampiros ou lobisomens. Tentativas de emoldurar, conformar e deformar na compreensão limitada do dogma e ideologia dos poderes seculares e religiosos daquele tempo algo que estava fora do seu escopo em diversos sentidos. Consequentemente o que ameaçava e denunciava sua evidente ineficácia e falta de poder neste sentido, pela funcionalidade e resultados que promovia aos seus adeptos sem a necessidade do rito e dogma intermediado pelo clero ou segundo os interesses da nobreza. Sobre estes ritos e guildas sugiro a leitura do meu livro “MISTÉRIOS VAMPYRICOS, A Arte do Vampyrismo Contemporâneo (2014) pela Madras Editora” o tema foi extensamente abordado lá.
“Mas por que dragões? Com certeza, por causa de sua mitologia e imagem duradouras, mas também por causa de sua herança biológica. O homem (ser humano) é o herdeiro da riqueza e do poder do dragão, como é amplamente demonstrado nos mitos de Sigurd e Fafnir. No ser humano, o cerebelo e o tronco cerebral são de origem reptiliana; assim, o dragão não significa a própria consciência, mas aquele potencial monstruoso e primitivo que dá origem à consciência, cujo poder se encontra profundamente enroscado dentro do mesmo. Mitologicamente, o mundo foi formado a partir do corpo do dragão primordial Tiamat, e os seres humanos brotaram das gotículas do sangue demoníaco vertido durante o conflito dos protodeuses. Muitos mitos sobre dragões escondem grandes segredos iniciatórios.” Michael Kelly
Independente da compreensão do lobo ou do dragão sempre que realizamos tais caçadas e jornadas no devaneio conduzido do nosso próprio ritmo, reproduzimos a nossa maneira e tecnologia o que viviam os antigos pagãos de Novgorod e outros reinos anteriores ao século X. Inclusive através dos símbolos, aliados e estados afins acessamos as mesmas dimensões baseado no grau de fundamento e desenvolvimento conquistado por cada um – já a interpretação… Aquilo que caçamos, coletamos e trazemos conosco é a integridade pois preenche lacunas de “achismos”, dogmas e ideologias com a vivência e aquilo que se alcança por si e não que lhe determinam por terceiros. Eis aí o preciso “Sangue” se prefere o jargão da Cosmovisão Vampyrica. Bruxas, lobos, vampiros e dragões são apenas mantras e sopas de letras da modernidade e pós-modernidade. Termos como “inconsciente” ou “subconsciente” são apenas placebos que perante a vivência tem a mesma validade de um mapa ou representação de um lugar, não da lembrança ou da estadia naquele lugar. Até mesmo por isso que a compreensão de imaginário na filosofia perene ou no saber pré-moderno é muito mais prática neste caso, aliás ao invés de “vontade” ou “verdadeira vontade”, experimente substituir por “transparente a si”.
Encorajo aos mais hábeis a busca e leitura da publicação “Flying Roll V”, da Golden Dawn. Não afirmarei que foi o primeiro documento de tal ordem a abordar a questão do vampirismo, mas com certeza é uma das melhores guias perante tal contexto e ainda sobre a força do imaginário e sua utilização nos outros reinos além do véu negro. É muito frequente nos livros estrangeiros do contexto VAMP citarem tal documento como pioneiro, bem como um rito muito específico deles. Abordei a questão no meu livro “MISTÉRIOS VAMPYRICOS, A Arte do Vampyrismo Contemporâneo (2014) pela Madras Editora”
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