ÁLVARES DE AZEVEDO ERA MESMO UM BOÊMIO?

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ÁLVARES DE AZEVEDO ERA MESMO UM BOÊMIO?

As pessoas me perguntam se Álvares de Azevedo era realmente um boêmio. E, depois de muito pesquisar, confesso que encontrei mais dúvidas do que respostas. Por mais que se leia sua obra e suas cartas, é difícil chegar a uma conclusão sobre a vida de nosso querido poeta lá atrás, no século 19. Podemos especular, entretanto, sobre os hábitos dos Românticos, com base nos estudiosos que trataram do assunto. Eloisa Aguiar, em seu livro O Canto dos Abismos – a adolescência de Álvares de Azevedo, afirma que:

“Para alguns, (…) não exatamente a morte é o que há de mais tenebroso na vida, mas o tédio habitual, a roer o homem bem nas entranhas. Alguns homens, levados pelo tédio, refugiam-se num estado de embriaguez, detectado sob a forma de uma laboriosidade profissional excessiva, de uma fuga frenética para o mundo dos romances, de uma febre de novas ações e novas experiências, especialmente no alcoolismo.”

E se havia algo que realmente existia na São Paulo daquele tempo era o tédio, ou o spleen, como eles gostavam de dizer! Ora, sabe-se que muitos poetas eram boêmios inveterados – como Fagundes Varella – e que o conhaque era, por excelência, o símbolo do Byronismo. Sendo Álvares de Azevedo o nosso “Byron Brasileiro”, seria ele um amante do álcool e de seus efeitos?

Brito Broca rebate, dizendo que “a alcoolatria de Álvares de Azevedo é muito discutível”, mas cita uma passagem de Ferreira de Resende (em Minhas Recordações), na qual ele declara: “De Maneco de Azevedo ouvi dizer que tomava grandes quantidades de conhaque”. Será? A pesquisadora Mônica Gomes da Silva, no livro A São Paulo inventada por Álvares de Azevedo, nos lembra que “o álcool funciona como o passaporte para o esquecimento em Noite na Taverna, ao contrário de Macário que o vê como fonte de inspiração: ‘Quando se tem três garrafas de Johannisberg na cabeça, sente-se a gente capaz de escrever um poema’.” Mas, a mesma autora, sobre os supostos vícios de Maneco, afirma ainda que “Tampouco por meio das cartas encontramos o hábito do apreciador do fumo e do conhaque. O hábito foi divulgado no texto biográfico escrito pelo primo Jacy Monteiro.”

É no livro Românticos, Pré-Românticos e Ultra-Românticos que Brito Broca posiciona-se definitivamente:

“Sou levado a crer que Álvares de Azevedo bebia, mas não como Bernardo Guimarães e Aureliano Lessa. Bebia de uma maneira que lhe permitia conciliar as esbórnias esporádicas com uma existência toda absorvida pela leitura e pelo estudo. (…) A bebida que Álvares de Azevedo mais cantou foi o vinho, cuja cotação entre os Românticos era quase tão alta quanto a do conhaque. Mas não é de supor-se que Azevedo, vivendo modestamente em São Paulo, tivesse dinheiro para tomar vinhos caros. O vinho de suas poesias devia ser quase sempre ‘literário’.”

Nosso querido Maneco de Azevedo, portanto, pode até ter se juntado a seus colegas boêmios para um pouco de farra (afinal, ninguém é de ferro!), mas, muito provavelmente, suas bebedeiras eram muito mais poéticas do que etílicas de verdade! Encerro com um trecho de Macário (Boêmios – ato de uma comédia não escrita):

“Toma dez bebedeiras – são dez cantos.
Quanto a mim, tenho fé que a poesia
Dorme dentro do vinho. Os bons poetas
Para ser imortais beberam muito.”

 

Um abraço e até a próxima!

Luciana Fátima.

 

E, por falar em vinho, em breve, novos sabores de REDIVIVO, O Vinho Vampyrico. Fique de olho!

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