Adeus Zé do Caixão (José Mojica Marins 1936-2020)

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Morre Zé Do Caixão

Adeus Zé do Caixão (José Mojica Marins 1936-2020)

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Zé do Caixão

Adeus Zé do Caixão (José Mojica Marins 1936-2020) o grande cineasta e pioneiro do horror nos cinemas brasileiros partiu nesta tarde de quarta-feria 19 de Fevereiro de 2020 por causa de uma broncopneumonia, segundo os familiares e amigos pelo que foi informado através do twitter, sites de notícias e nas redes sociais. Ele estava internado no hospital Santa Maggiore, no bairro paulista da Móoca. Mais conhecido como Zé do Caixão é considerado o pai do cinema de terror no Brasil, foi ator, diretor e até pouco tempo atrás apresentava um talkshow no Canal Brasil. Já fazia alguns anos que ele se encontrava recluso por conta de problemas de saúde, sobretudo cardíacos e pela sua idade avançada. Um luminar do sol negro, trouxe para o mundo o lado criativo do sentir medo e as dimensões sensoriais que apenas um mestre na arte de criar filmes pode realmente fazer.Adeus Zé do Caixão (José Mojica Marins 1936-2020)

Sua vida foi simplesmente genial e controversa, dirigiu e participou de mais de 50 filmes. Seu personagem e criação mais icônica foi o Zé do Caixão e este surgiu de um pesadelo com um coveiro e estreou no clássico “A meia noite levarei a sua alma” (1964). Era a história de um coveiro sádico que depois de uma experiência de quase morte, passa a tocar o terror em uma cidadezinha em busca da mulher superior para ter o filho perfeito. Uma das cenas mais provocantes e divertidas é o personagem exigindo um prato de carne em plena sexta feira santa dentro de um restaurante. Já a abertura em tons épicos e nietzchenianos “O que é a vida? É o princípio da morte. O que é a morte? É o fim da vida. O que é a existência? É a continuidade do sangue. O que é o sangue? É a razão da existência.” dá o tom perfeito do que esperar.

Para Lord A é dificil não lembrar do Zé do Caixão apresentando o Cine Trash nas tardes da Bandeirantes. Suas homéricas e inesquecíveis pragas do dia! Dificil não se recordar dele lá no comecinho da década de noventa performando e palestrando na Gibiteca Henfil num dos primeiros eventos para fãs do horror realizados no Brasil. E o que não dizer da sua obra prima “Encarnação do Demônio” lançado em 2008 em diversos cinemas brasileiros, finalizado a saga do seu personagem! Lembro quando o conheci pessoalmente durante uma das primeiras edições do Dia dos Vampiros na Prosangue lá em 2004. Tive a honra de partilhar o palco com ele e sua filha Liz Vamp em um Haloween da Casa das Rosas em 2010. É um nobre amigo, sempre um cavalheiro e um ícone do terror mundial, talvez o último da grande geração de monstros clássicos do cinema que incluiu Christopher Lee, Boris Karloff, Vincent Price e Bela Lugosi.

Zé do Caixão

Para nós da Rede Vamp e da Comunidade Vamp do Brasil fica nossa lembrança, das várias vezes que pudemos passar um tempinho com ele ouvindo suas histórias e conselhos sobre como ser um “monstro” neste selvagem jardim. É bem verdade que ele achava “vampiros” um tipo de monstro estrangeiro e importado, mas ele curtiu quando soube que a América Pré Colombiana foi um território repleto de deídades e xamãs murciélagos, alguns chamados de Muxicas. Curtiu, mas daquele jeito irreverente e subversivo, mas sempre atencioso com todos nós.

Zé do Caixão é uma referência absoluta no terror brasileiro, assim como o grande escritor Rubens Luchetti. Aliás, Mojica inspirou pelo menos duas gerações de talentosos escritores, artistas e cineastas no Brasil; a constar nomes como Rodrigo Aragão, Joel Caetano, Claudio Elovitch, Marcos De Brito e muitos outros. O cineasta Juliano Dornelles, que dirigiu Bacurau ao lado de Kléber Mendonça reagiu em sua conta no twitter à morte de Mojica. “Um dos maiores de todos os tempos partiu. Obrigado, Mojica”, escreveu. Thunder Dellú, escritor de horror e aventura de Monteiro Lobato, afirma que Mojica foi uma de suas grandes inspirações. Nosso querido Mojica foi um mestre na arte do DIY (Faça Você Mesmo) escrevendo histórias, roteiros e dirigindo tudo que criava ou participava com grande paixão – sempre ligado a temas polêmicos e contrastantes de todos os tipos. Popularizou o terror no Brasil, foi admirado por cineastas como George Romero e Roman Polansky. E embora seu personagem não tenha gerado seu tão almejado “filho perfeito”, com certeza o spin off desta narrativa veio como a filha perfeita na personagem Liz Vamp, interpretada por sua filha na vida real. Ela é a criadora da campanha Dia dos Vampiros, leia mais aqui.

Zé do Caixão é homenageado em evento da Darkside Books

A DARKSIDE BOOKS publicou uma obra bastante vasta e completa sobre sua trajetória, de autoria do André Barcynski e do Ivan Finotti ,que recomendamos a leitura. O grande cineasta foi homenageado com grande honra e vênia no ano passado na HORROR EXPO, ocasião que foi representado por sua filha Liz Vamp. Enfim, até lá, até lá e até lá!Adeus Zé do Caixão (José Mojica Marins 1936-2020)

A DESPEDIDA DO GRANDE MESTRE

Velório do Zé do Caixão no MIS
Foto do Auditório do MIS durante o velório (Foto de Claudio Ellovitch)

O velório aconteceu na tarde e durante a madrugada dos dias 20-21 de Fevereiro, na Lua Negra, no auditório do MIS – Museu da Imagem e do Som, ao nosso ver um lugar apropriado que o honrou em vida com uma generosa exposição de sua obra e vida. O evento foi aberto ao público e durante suas horas reuniu familiares, amigos e fãs de longa data. Estivemos lá também. Mojica foi um exemplo de uma vida bem vivida sendo e fazendo aquilo que mais amava. Extraordinário é um adjetivo que define muito bem sua pessoa e sua obra, foi alguém que podemos falar assim sem parecermos demodê. Agora sim, um verdadeiro imortal. Em cada parte daquele auditório e dos murais
da sua exposição podíamos sentir um pouco do vigor de sua alma criativa.

Para Lord A era estranho vê-lo em um caixão, sabendo que o corpo permaneceria ali para seu repouso final e que logo seria na mítica Necrópole São Paulo, de Pinheiros. Ainda lembrava da HorrorCon, na Gibiteca Henfil no meio dos anos noventa quando Zé do Caixão saía de um esquife e dava inicio a sua tradicional performance. Um artista que como ninguém explorou o medo, a morte e o macabro como
horizonte e nunca como ponto final. Estranhava ver seu corpo no caixão, ao mesmo tempo, a foto clássica de seu personagem na ampla tela, anunciando que suas criações e o melhor da sua “alma”, “nous”, intelecto – ou o nome que você quiser dar – permaneciam ali imortais envolvendo e inspirando todos nós. Agora um imortal. O legado dele vive em todos nós que fazemos do terror e lançamos nossos olhares a estes novos horizontes além da própria escuridão.



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