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Entendendo a fotografia post-mortem

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Saudações, visitantes!

Notei que muitos gostaram da última viagem ao Château de Noisy e então hoje os levarei para conhecer um pouco mais da beleza decadente da Era Vitoriana (1837 – 1901), época em que a morte era tratada com grande naturalidade e até mesmo com alguma pompa que se perdeu na era moderna. Hoje em dia, as pessoas temem falar sobre algo que é inevitável e que continua sendo parte do nosso cotidiano. Naquela época a morte era respeitada e envolta por ritos e cerimônias luxuosas, sobre as quais poderei falar em outra oportunidade.

E como em qualquer cerimônia, havia uma porção de regras de etiqueta conduzia o luto. O que hoje é expresso com uma simples fita preta nas fotos que enfeitam os perfis das redes sociais dos parentes e amigos mais próximos, naquela época era um verdadeiro rito que envolvia o uso de trajes específicos, de tecidos específicos pelos parentes e por um determinado tempo após o sepultamento. Era considerado um escândalo e uma grande falta de respeito caso o luto não fosse guardado ou caso o funeral não seguisse as tais regras de etiqueta. Digamos que seria o mesmo que invadir um cemitério e desenterrar corpos ou roubar vasos e flores da sepultura dos mortos hoje em dia.

Quem é que faz esse tipo de coisa, não é mesmo?

Porém, dentre tantos costumes fúnebres que surgiram durante a Era Vitoriana, existe um que atualmente tem sido bastante divulgado nas redes sociais como algo mais do que bizarro e tétrico: a fotografia post-mortem (ou pós-morte), que eram fotografias feitas por profissionais especializados em daguerreótipos feitos a partir da captura da imagem de pessoas já mortas. Um costume que acabou se espalhando por diversos lugares da Europa e das Américas após a invenção do daguerreótipo em meados de 1839.

As fotos normalmente eram feitas dentro da residência do falecido, onde ele poderia estar cercado pelos seus familiares diretos (como pais, filhos ou cônjuges) ou por flores ou até mesmo brinquedos. Sim, era muito comum aos pais encomendarem fotos de seus filhos recém-falecidos porque ainda naquela época a taxa de mortalidade infantil era alta devido às epidemias de cólera, difteria e algumas outras doenças que atingiam principalmente as crianças e as parturientes.

Além do mais, quem não quer guardar uma imagem de lembrança do seu ente mais querido?

Que pai ou que mãe não gostaria de ter uma única foto do seu filho, para jamais esquecer como eram seus traços, de como gostava de se vestir e de quais eram seus brinquedos favoritos? O processo fotográfico era bastante caro, não era comum haver fotos de cada momento da vida do ser humano, então na maioria das vezes aquela foto post-mortem era o único registro fotográfico da passagem daquela pessoa pelo mundo.  Não eram fotos feitas para chocar. Ninguém ficava chocado ao ver uma foto post-mortem, era algo comum e carregado de sentimentos.

Mas, então, como eram feitas estas fotos? Afinal, resumidamente eram fotos de um cadáver, com todas suas limitações e dificuldades.

Bom, essa era a parte mais trabalhosa. Fazer o cadáver parecer estar ainda vivo (afinal, era uma foto que entraria para o álbum de família, que seria enviada como cartão aos parentes mais distantes ou que seria emoldurada e colocada sobre a lareira).

postmortem2De acordo com o relato de alguns fotógrafos que faziam esse tipo de trabalho, às vezes era necessário usar o cabo de uma colher de chá para movimentar as pálpebras e manualmente colocar o globo ocular em seu devido lugar. Quando não era possível abrir as pálpebras, eram pintados olhos sobre elas, o que acabava por deixar a foto pouco natural. Um pouco de maquiagem normalmente resolvia o problema da falta de expressão no rosto do falecido e dava aos bebês mortos uma cor mais saudável. Raramente usavam choques elétricos para estimular os músculos faciais, mas era bastante comum usarem armações de madeira para sustentar de pé ou sentado o corpo sem vida. Também era incomum fotografarem os falecidos em seus esquifes, mas às vezes a família não tinha outra opção.

Então o fotógrafo daguerreotipista com a sua máquina capturava a imagem que era gravada em placas de cobre (ou outro metal barato) banhadas em prata e após serem reveladas eram encapsuladas em uma película de vidro que receberia uma moldura. Esta técnica evoluiu rapidamente com o passar dos anos e logo alguns tons puderam ser acrescentados às fotografias como podem ver no vídeo abaixo. Sei que parecem assustadoras e até mesmo macabras, mas estar fotos eram vistas como incríveis obras de arte pela maior parte dos vitorianos.

Chegando ao fim desta breve viagem, acredito que meus queridos visitantes conseguem perceber que a famigerada fotografia post-mortem era nada mais nada menos do que uma forma de prestar uma homenagem ao entre querido recém-falecido e cá para nós, eu acredito que não há nada de horrível nisso. Era apenas uma forma das famílias enlutadas preservarem a memória de seus queridos, um costume que infelizmente e ou felizmente caiu em desuso, como tantos outros costumes daquela época e de épocas ainda mais remotas em que a morte e os mortos eram tão reverenciados quanto aqueles que ainda vivem e respiram.

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