Conheça a loja onde monstros, vampiros e lobisomens fazem compras

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Conheça a loja onde monstros, vampiros e lobisomens fazem compras

A rua Hoxton fica no subúrbio de Londres, na zona norte da cidade, onde antes se encontravam hospícios, cortiços e moradias de operários. Hoje, vivem ali zumbis de esgoto, um mutante na biblioteca e um monstro de cabelo felpudo chamado Eidan, que se esconde atrás do banco do parque.

Eidan tem garras afiadas e, quando encosta as mãos numa bela mulher, ele se transforma num edifício de dez andares. Com vistas a atender essa horripilante demanda, funciona há dois anos, no número 159, a Hoxton Street Monster Supplies (Loja para Monstros da Rua Hoxton), que fornece mercadorias de qualidade para seres de todos os tipos e formatos.

“Muitos dos nossos clientes estão conosco há séculos. Outros são mais antigos ainda. Seja você vampiro, lobisomem, Pé-Grande ou qualquer outra coisa diversa, nós temos o que você precisa”, diz o folheto.

Na Loja da Rua Hoxton, o monstro contemporâneo pode adquirir vidros de bile, pele esfolada, sangue AB negativo extrapuro, sangue O positivo para uso geral, pastilhas mentoladas (para o hálito dos zumbis), chutney de entranhas, marmelada de órgãos, meleca de nariz humano compacta e “uma vaga sensação de mal-estar”.

Os produtos são enfileirados e metodicamente expostos em sólidas prateleiras de madeira, como numa loja de boticário. Os seres comuns podem argumentar que a compota de cérebro à moda antiga é apenas geleia de framboesa, enquanto a cera de ouvido em cubos é composta de prosaicos tabletes de caramelo.

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PEIDOS

Aparentemente, não há nada dentro do vidro de peidos frescos –cuja descrição é “o fedor do medo: a mais fina iguaria para o monstro exigente”– e há singelas balas de goma dentro das latas de “terror noturno”, “medo paralisante” e “frio na barriga”.

No valor de oito libras cada uma (R$ 26), tais latas são o que há de mais moderno em matéria de sensações desagradáveis. Como verdadeiros antidepressivos, só que ao contrário, prometem induzir visões de demônios, bichos-papões, dentistas e “coisas que fazem BUMP! no meio da noite”, afastando qualquer sentimento de conforto, segurança e contentamento. A posologia de “frio na barriga” para crianças é de um ou oito comprimidos por dia, postos debaixo do travesseiro.

Já as cápsulas de “terror mortal” inspiram um medo imediato e palpável da morte. Efeitos colaterais: grotesco inchaço dos membros e do rosto, incompetência geral e morte. “Em caso de overdose, entre em contato com um padre e mostre este rótulo.”

São produtos indicados para monstros inseguros, com baixa autoestima, que não conseguem mais instilar o pavor não farmacológico nas vítimas. No interior de todas as latas, contos escritos por autores ingleses fazem as vezes de bulas.

OUTRO LADO

A Loja para Monstros é uma iniciativa do Ministry of Stories (Ministério das Histórias), organização sem fins lucrativos que fornece cursos e workshops de escrita criativa para crianças e jovens da periferia de Londres.

Idealizado pelo escritor Nick Hornby (de “Alta Fidelidade” e “Um Grande Garoto”), o ministério visa a instigar a imaginação das novas gerações, promovendo uma melhora geral na confiança e na autoestima –não há nenhum paralelo com os anabolizantes para monstros.

A inspiração veio da 826 Valencia, loja de produtos para piratas e centro de escrita criativa, fundada pelo americano Dave Eggers em San Francisco, na Califórnia. Além de comercializar ganchos, tapa-olhos, extensões para barbas, pernas de pau, tampões antissereia e olhos de vidro, o estabelecimento incitou a criação de outros similares pelo país: uma filial para super-heróis em Nova York, uma para robôs em Michigan, uma para viajantes do tempo em Los Angeles e outra voltada para astronautas em Seattle.

TEXTO DE VANESSA BARBARA , ORIGINALMENTE PUBLICADO NA FOLHA UOL

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